segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A Magia do Circo

Certa vez ouvi um amigo falar que depois que proibiram os circos de fazerem números com animais, o espetáculo tinha perdido a graça. Nunca havia ido a um circo até hoje. Promessas, ouvi várias durante a vida. Mãe, irmã, irmão, amigos, vizinhos, namorados, todos em algum momento prometeram me levar ao circo e nada.

Antes de ontem, após sair do cinema, vi que o circo estava na Quinta da Boa Vista, e resolvi que no dia seguinte eu abriria mão de estudar pra realizar meu grande desejo, e passar algum tempo divertido com meus filhos. Desde que resolvi voltar a estudar, pouco tempo proveitoso tenho passado com eles. O tempo é algo complicado, muito tempo não significa tempo proveitoso, assim como o inverso não.

Sei que fiquei maravilhada e me senti uma criança. Tudo era muito bonito e bem trabalhado. Belas e talentosas pessoas. E como não podia deixar de ser, houve erros. Mas o mais importante é que ninguém se deixou abater pelos erros e o espetáculo foi maravilhoso. O circo se renovou e senti um prazer indescritível. Algo me chamou atenção de forma inexplicável. Havia um rapaz numa cadeira de rodas que deu um espetáculo à parte.

É incrível como podemos nos surpreender. O mais maravilhoso não foi o que ele conseguiu fazer, mas a alegria intensa e contagiante que resplandecia nos olhos dele ao executar seu momento. Era impressionante. Olhando pra ele senti como se ele pudesse voar. Ele tinha asas. Adoro quando vejo alguém tão entregue. E ele estava entregue ao sonho, a superação.

Limitações todos temos, só não podemos permitir que isso emperre nossa vida e nos faça desistir de nossos sonhos. Ao longo dos poucos anos que tenho de vida conheci diversas pessoas. Pessoas ditas normais que se encarceravam em seu mundinho e se fechavam pra realizações e sonhos; e pessoas ditas normais que buscavam o seu sonho. Encontrei pessoas que se deixavam levar pelas limitações impostas por si mesmas e por outras pessoas. E outras que viam no céu apenas um obstáculo até a lua; obstáculo esse atravessável.

Quando as pessoas me diziam que algo era difícil gostava de dizer isso: depois que o homem foi a Lua, o céu deixou de ser o limite. Conseguimos tanta evolução, tanto conhecimento, por que algumas pessoas ainda se sentem presas a limitações que não existem?

Esse rapaz não se limitou às pernas que não “funcionavam”, ele aprendeu a usar os braços, a fortalecer o tronco e rodopiar no chão. Aprendeu a usar a cadeira como ferramenta e não como limitação a sua vida. Não sei as dificuldades ou barreiras que ele enfrentou ou enfrenta, mas ontem vi um homem que venceu tudo pra viver um sonho. E o fez da melhor maneira possível. Sendo uma estrela brilhante. Iluminando todos com sua magia e arte.

Quero ser assim, iluminada e vencedora. E espero poder iluminar quem lê minhas postagens, resplandecendo a luz que recebi de outros iluminados.

“Não
Não sei se é um truque banal
Se um invisível cordão
Sustenta a vida real

Cordas de uma orquestra
Sombras de um artista
Palcos de um planeta
E as dançarinas no grande final

Chove tanta flor
Que, sem refletir
Um ardoroso expectador
Vira colibri

Qual
Não sei se é nova ilusão
Se após o salto mortal
Existe outra encarnação

Membro de um elenco
Malas de um destino
Partes de uma orquestra
Duas meninas no imenso vagão

Negro refletor
Flores de organdi
E o grito do homem voador
Ao cair em si

Não sei se é vida real
Um invisível cordão
Após o salto mortal”

(Chico Buarque – O circo místico)

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