terça-feira, 25 de junho de 2013

SOBRE MOSQUITAS E INSÔNIA

         Noite tranquila, depois de muita agitação. Bebê dormindo, marido dormindo e eu com a enorme vontade de escrever. Mas vamos aos fatos. Dizem os pesquisadores de insetos que apenas a fêmea do mosquito é bebedora de sangue, sendo o macho bebedor de seiva. Então a criatura que me impediu de dormir era uma fêmea que preferia meu sangue ao do meu marido.
         Insônia é um dos meus nomes. Quando não estou trabalhando não consigo dormir cedo, por mais que eu tente. Se por um milagre consigo dormir cedo, não mantenho o sono, acordando várias vezes durante a noite. Uma pesquisa norte-americana mostrou que os casais apresentam mais dificuldade para dormir. Desses, as mulheres são as que menos dormem. E são vários os motivos, desde problemas com ronco até pequenas idiossincrasias de cada um. Um exemplo de idiossincrasia é a de uma conhecida, cujo marido é muito calorento e não consegue dormir sem o ar condicionado ligado. Ela morre de frio e dorme coberta, enquanto o marido curte um fresquinho. Outro exemplo que conheço é de um casal que a mulher adora dormir esparramada na cama, enquanto o marido adora dormir abraçadinhos. Ela fica acordada até que o marido durma, pra enfim de desvencilhar dele e poder dormir sossegada.
Aqui em casa, não consigo dormir sem meus três amantes. Deixe-me explicar: primeiramente a culpa é da minha antiga fisioterapeuta. Tive uma pequena fratura na 5ª vertebra lombar e ela me aconselhou a dormir com um travesseiro entre as pernas pra alinhar a coluna, já que gosto de dormir de lado. Na época da minha segunda gestação, a médica recomendou que eu colocasse um travesseiro embaixo dos pés para evitar vasos nas pernas.
         Acho que vocês já entenderam que meus amantes são os travesseiros que uso pra dormir. Esse apelido carinhoso foi dado pelo meu marido. No inicio ele odiava meus “amantes”, hoje fazemos um ménage a trois na hora de dormir, se bem que ménage a trois pressupõem três e somos seis: dois humanos e quatro travesseiros, logo não se trata de um ménage, mas uma suruba. Rssssss
         Agora voltando às vacas magras, porque com a crise econômica em que vivemos, as gordas estão difíceis de encontrar.
         Existem no mercado vários mecanismos para matar ou espantar os mosquitos, mas nenhum de comprovada eficiência que nos fizesse livres desses seres chatos, que ainda transmitem doenças. Noite tranquila, todos dormindo e toda vez que Morpheus vinha me beijar, eis que a mosquita desagradável vinha me pertubar com seu zunido chato nos meus ouvidos. Vira pra cá, vira pra lá e quando encontro uma posição boa pra dormir, a bendita vem e pousa no meu nariz. Pior de tudo é não poder ligar o computador pra não acordar o marido que dorme pesadamente do meu lado. Olho pro berço, Pulluca dormindo tranquila. Fecho os olhos e vem à cabeça a série de coisas que tenho que fazer durante a semana. Lembro da prova que tenho no sábado e que tenho que ligar pra minha irmã comparecer comigo pra guardar a bebê durante o curso da prova.
         Penso nos carneirinhos e nas vaquinhas pastando em algum lugar bonito. Lembro novamente que há ainda muita coisa pra estudar pra prova e começo a lembrar do que ainda tenho que analisar, das coisas que tenho que organizar e do cardápio do almoço. Lembro do arrastão perto da minha casa, da cara de aflição da vizinha pedindo pra eu entrar depressa com as crianças. Da guerra urbana se está sendo travada no local onde moram meus amigos e parte da minha família. Mente vazia pode até ser oficina do diabo, mas mente cheia, com certeza, não é oficina do sono. Consigo lembrar o som das ondas do mar e Morpheus vem novamente tentar me beijar. A mosquita dos infernos volta a zumbir nos meus ouvidos sua canção chata e maçante.

         Olho o celular, são quatro horas da manhã e nada de sono. Pulluca acorda, penso em amamentar e coloca-la de volta no berço, mas desta vez, Morpheus consegue me beijar e embarco com ele. Pouco tempo depois o alarme me acorda, lembrando minhas obrigações. Hora de acordar os homens da casa para irem pra escola e para o trabalho. São cinco horas e quarenta minutos. Eu juro que tento dormir, mas está cada dia mais difícil unir meu ciclo circadiano aos meus compromissos e ao ciclo do dia.