Noite tranquila, depois de muita
agitação. Bebê dormindo, marido dormindo e eu com a enorme vontade de escrever.
Mas vamos aos fatos. Dizem os pesquisadores de insetos que apenas a fêmea do
mosquito é bebedora de sangue, sendo o macho bebedor de seiva. Então a criatura
que me impediu de dormir era uma fêmea que preferia meu sangue ao do meu
marido.
Insônia é um dos meus nomes. Quando não
estou trabalhando não consigo dormir cedo, por mais que eu tente. Se por um
milagre consigo dormir cedo, não mantenho o sono, acordando várias vezes
durante a noite. Uma pesquisa norte-americana mostrou que os casais apresentam
mais dificuldade para dormir. Desses, as mulheres são as que menos dormem. E
são vários os motivos, desde problemas com ronco até pequenas idiossincrasias
de cada um. Um exemplo de idiossincrasia é a de uma conhecida, cujo marido é
muito calorento e não consegue dormir sem o ar condicionado ligado. Ela morre
de frio e dorme coberta, enquanto o marido curte um fresquinho. Outro exemplo
que conheço é de um casal que a mulher adora dormir esparramada na cama,
enquanto o marido adora dormir abraçadinhos. Ela fica acordada até que o marido
durma, pra enfim de desvencilhar dele e poder dormir sossegada.
Aqui em casa, não consigo dormir sem
meus três amantes. Deixe-me explicar: primeiramente a culpa é da minha antiga
fisioterapeuta. Tive uma pequena fratura na 5ª vertebra lombar e ela me
aconselhou a dormir com um travesseiro entre as pernas pra alinhar a coluna, já
que gosto de dormir de lado. Na época da minha segunda gestação, a médica recomendou
que eu colocasse um travesseiro embaixo dos pés para evitar vasos nas pernas.
Acho que vocês já entenderam que meus
amantes são os travesseiros que uso pra dormir. Esse apelido carinhoso foi dado
pelo meu marido. No inicio ele odiava meus “amantes”, hoje fazemos um ménage a
trois na hora de dormir, se bem que ménage a trois pressupõem três e somos
seis: dois humanos e quatro travesseiros, logo não se trata de um ménage, mas
uma suruba. Rssssss
Agora voltando às vacas magras, porque
com a crise econômica em que vivemos, as gordas estão difíceis de encontrar.
Existem no mercado vários mecanismos
para matar ou espantar os mosquitos, mas nenhum de comprovada eficiência que nos
fizesse livres desses seres chatos, que ainda transmitem doenças. Noite
tranquila, todos dormindo e toda vez que Morpheus vinha me beijar, eis que a
mosquita desagradável vinha me pertubar com seu zunido chato nos meus ouvidos.
Vira pra cá, vira pra lá e quando encontro uma posição boa pra dormir, a
bendita vem e pousa no meu nariz. Pior de tudo é não poder ligar o computador
pra não acordar o marido que dorme pesadamente do meu lado. Olho pro berço,
Pulluca dormindo tranquila. Fecho os olhos e vem à cabeça a série de coisas que
tenho que fazer durante a semana. Lembro da prova que tenho no sábado e que
tenho que ligar pra minha irmã comparecer comigo pra guardar a bebê durante o
curso da prova.
Penso nos carneirinhos e nas vaquinhas
pastando em algum lugar bonito. Lembro novamente que há ainda muita coisa pra
estudar pra prova e começo a lembrar do que ainda tenho que analisar, das
coisas que tenho que organizar e do cardápio do almoço. Lembro do arrastão
perto da minha casa, da cara de aflição da vizinha pedindo pra eu entrar
depressa com as crianças. Da guerra urbana se está sendo travada no local onde
moram meus amigos e parte da minha família. Mente vazia pode até ser oficina do
diabo, mas mente cheia, com certeza, não é oficina do sono. Consigo lembrar o
som das ondas do mar e Morpheus vem novamente tentar me beijar. A mosquita dos
infernos volta a zumbir nos meus ouvidos sua canção chata e maçante.
Olho o celular, são quatro horas da
manhã e nada de sono. Pulluca acorda, penso em amamentar e coloca-la de volta
no berço, mas desta vez, Morpheus consegue me beijar e embarco com ele. Pouco
tempo depois o alarme me acorda, lembrando minhas obrigações. Hora de acordar
os homens da casa para irem pra escola e para o trabalho. São cinco horas e
quarenta minutos. Eu juro que tento dormir, mas está cada dia mais difícil unir
meu ciclo circadiano aos meus compromissos e ao ciclo do dia.