quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A Nuvem Negra e o Fogo Renovador

De repente me encontrei envolvida numa profunda nuvem de escuridão; e cercada pelo medo e a insegurança fui me entregando a ela como uma criança perdida se permite ser levada pelo primeiro adulto que a oferece ajuda. Estava tomada pelo conflito que se apoderava de mim: devia me entregar às trevas ou não? Será que eu deveria buscar fugir daquela nuvem que me envolvia e atordoava?

Um silêncio se apoderou de mim, e meus pensamentos se calaram. Como uma rocha que sente a batida incessante da água, ora fria, ora quente, eu sentia tudo e não era capaz de me mover. Dizem que a água bate até furar a pedra, eu não sei bem como, e nem porque, mas parecia que minha inércia era completa. Estava tão estática que a água sequer tocava a minha alma fria e desconsolada.

Renato Russo dizia em uma de suas canções que sempre existe um caminho, mas naquele fatídico momento eu não via caminho. Quando as sombras negras tentam nos tomar, não somos capazes de pensar ou mesmo de entender o que está acontecendo. A entrega total e sem luta parece ser sempre a melhor solução. É uma morte rápida e sem muita dor, como um tiro na cabeça.

Mas por que se entregar sem lutar? Se entregar ao vazio é como se tornar invisível. Como se nunca tivesse existido. Mas há momentos em que ser invisível é bom. Principalmente nos momentos em que a dor é tão grande que não somos capazes de ver além do horizonte. Um grande buraco negro tomou conta de mim.

O fogo queima meu corpo com suas intensas labaredas. Sinto minha existência se extinguindo aos poucos, enquanto minha alma dilacerada se esvai do meu corpo em processo de dissolução. Ouço uma voz me dizendo: “Do pó vieste e ao pó retornarás”. Meu corpo é reduzido a cinzas. A chama do fogo não se apagou. Ainda posso sentir o calor forte de suas labaredas ardentes.

O fogo vai me reconstruindo aos poucos. Sinto tudo se restabelecer como que por encanto. Meu novo corpo parece ainda mais forte que o anterior. Minha alma habita esse novo corpo e me mostra que também ela foi afetada por essa metamorfose dolorosa. A nuvem negra se desfaz lentamente, mostrando-me uma luz que cresce de forma gradual. Percebo que ganhei asas, mas somente pessoas iluminadas conseguem visualizá-las.

A glória só é vista por quem acredita nela. Assim, depois de todo processo concluído, levanto-me do chão. Recolho tudo que sobrou e lanço ao vento. O vento leva a dor, a mágoa, e tudo mais que não é necessário no momento. A água purificadora lava meu corpo e me mostra minha verdadeira cor, fazendo com que as últimas cinzas desapareçam. Agora é uma nova era, um novo começo, uma nova vida, um novo caminho, um novo lugar pra chamar de meu. Pelo menos por enquanto...

sábado, 20 de novembro de 2010

Manifesto Contra a Violência

Há dez anos atrás eu sofri um sequestro relâmpago, os bandidos olhavam pra mim e me chamavam de princesa. E cada vez que faziam isso eu sentia meu sangue ferver e uma vontade, quase incontrolável, de bater ferozmente neles até que o sangue deles manchasse minha roupa negra. Estavam muito nervosos provavelmente era um dos primeiros crimes que cometiam. Os bandidos nos levaram para a Ilha do Fundão, onde geralmente se desovavam corpos. Quando vi o carro entrar na Ilha, acreditei que de lá não sairia viva. Dava como certo o meu estupro e morte. Eles ficaram rodando conosco por cerca de uma hora, e nos deixaram na Linha Amarela, indo em direção à Avenida Brasil.

Sugeri ao meu amigo que fossemos dar queixa na 22ª DP. Próximo ao Mc Donalds havia uma patrulha, nos aproximamos e eles disseram que não poderiam fazer nada. Demos queixa e sentimos toda a frieza dos policiais, quando dissemos que o carro não tinha seguro. Na época as coisas eram mais simples. Algum tempo depois os sequestros ficaram mais agressivos, e eles obrigavam as vitimas a sacar dinheiro em agencias bancárias 24h.

Posso dizer que dei sorte, pois não me levaram nada. Todavia no dia 16 deste mês, sofri um assalto no ônibus e um rapaz negro, magro e jovem, de camisa vermelha, arrancou violentamente meu celular das minhas mãos, quase levando junto minha orelha. Ele entrou no ônibus em que eu estava, observou, viu que eu estava com uma criança, que era mulher. Quando o motorista abriu a porta do ônibus em frente a um polígono da polícia, ele me roubou o celular e o sossego.

Um ano antes um desconhecido levou meu celular no ônibus no Alto da Boa Vista, mas esse eu não vi quem era. Algumas semanas antes do assalto, me levaram um outro aparelho, novamente um desconhecido se aproveitou que eu estava com criança, para sorrateiramente levar meu celular. E alguns dias atrás isso foi feito de forma violenta.

O motorista do ônibus ainda deu uma volta pra ver se encontrava o rapaz, mas nada. Ele passou por três patrulhas da polícia e ninguém o viu. Parei em um dos carros e alertei, fiquei surpresa quando os policiais pediram que entrasse no carro e saíram em busca do meliante. Esses policiais não fizeram como os anteriores, eles se propuseram a fazer o seu trabalho. Passaram um rádio pras outras patrulhas pedindo que observassem caso vissem algum rapaz com a descrição que eu lhes dera.

Nada que foi feito tirou de mim a dor de ter um bem que eu conquistara com tanto esforço ser tirado de forma violenta de minhas mãos. O problema maior é a certeza que os criminosos tem da impunidade. O rapaz que me assaltou provavelmente era menor. Se pego, ele vai cumprir medida sócio educativa e depois, provavelmente, vai retornar para o crime. Sei que fui abençoada por encontrar pessoas de bem, que se dispuseram a me ajudar da maneira como podiam.

Mas precisamos muito mais do que UPPs para solucionar o problema da violência. Precisamos que os jovens de comunidades pobres vejam uma perspectiva de futuro melhor do que trabalhar como boy, ou não ter trabalho. É mais do que necessário que se invista em educação, e principalmente na educação para o trabalho. Precisamos que os governantes deixem de roubar com obras superfaturadas e invistam em geração de emprego e renda.

Precisamos apresentar um futuro melhor e mais digno para que esses meninos não sejam atraídos pelo dinheiro fácil e pelo tráfico de drogas e armas. Precisamos, todos nós, de esperança de um futuro, não muito distante, onde não teremos medo de andar nas ruas. Onde não tenhamos medo de andar com os bens que conquistamos com nosso suor. Onde não tenhamos que andar com dois celulares, o nosso e do iminente ladrão.

Não podemos nos culpar pela desordem e o caos, não quero ser vitima, mas também não quero ser culpada por não ter tido cuidado suficiente para resguardar meus parcos bens. Não quero ficar noites em claro pensando no que poderia ter feito pra evitar que um qualquer da sociedade me privasse de algo que eu, com trabalho honesto, comprei. Não quero pensar nos sapos que engulo todos os dias, na falta que sinto dos meus filhos, no tempo perdido no trânsito em que poderia estar sendo mais útil, e que usei pra comprar aquele celular e que me foi tirado.

Não aceito mais a vergonha do nosso país. A vergonha da minha cidade. A vergonha de não me sentir segura pagando os altos impostos que pago, para que ladrões de colarinho branco possam viajar em jatos particulares, terem seguranças particulares, para pagarem caras escolas pros seus filhos, enquanto que eu luto diariamente para pagar uma escolinha não muito cara, para que meus filhos não sejam esmagados pela educação pública.

Não aceito que essa corja de assassinos e ladrões minta descaradamente que são honestos enquanto pagam esmolas para que a população menos instruída os mantenham no poder. Não podemos aceitar calados aos mandos e desmandos de uma minoria que mama das tetas da maioria trabalhadora.

Eu quero dar um basta a essa corrupção, um basta à falta de bom senso das pessoas que se deixam iludir com falsas promessas. A repressão é necessária, mas junto com ela tem que haver outras medidas que impeçam que sejamos alvo da fúria dos marginais. Que percamos nossa paz.

CHEGA, pra mim CHEGA.

A PAZ QUE EU NÃO QUERO SENTIR

Essa é a segunda parte do meu manifesto pessoal contra a violência.

São duas horas da manhã e apesar de ter tomado uma taça de vinho pra relaxar, um banho quente (e quem me conhece sabe que é bem quente mesmo), eu não consigo dormir. Sinceramente não foi a discussão de meus vizinhos gays que me tirou o sono, tampouco o frio que senti invadir meu corpo e alma. Apesar da tentativa frustrada de meditar dizendo pra mim mesma entre uma expiração e outra que “Deus está dentro de mim”, sequer eu mesma estava dentro de mim.

A imagem da fração de segundos em que fui vitima (e como me dói dizer, escrever ou pensar nessa palavra) da violência de nossa cidade. Para alguns pode parecer um pouco de exagero, mas desde que me entendo por gente jamais havia, sequer presenciado um assalto na Praça das Nações. O pior de tudo foi isso acontecer em frente a um posto policial, numa das ruas mais movimentadas, e com bastante movimento.

Desta vez não foi à dor de perder meu celular, mas... não adianta tentar racionalizar o que estou sentindo. Impotência não diz muito, é mais. Frustração talvez, mais também não fala tudo. É um misto de sentimentos que vão da raiva à culpa, da revolta a dor que dilacera meu peito e me faz sentir absurdamente fraca. Sempre fui tão cuidadosa, sempre consegui ver nos olhos de alguém sua intenção. E agora não dei ouvidos aos meus instintos que diziam que aquele rapaz de rosto suave e traços finos era, na verdade, um aprendiz de marginal. Sim, porque roubar um celular da mão de uma mãe não é coisa de um criminoso experiente, mas de um aprendiz.

Fico, como um ator que ensaia uma peça, repassando aquela fração de segundos, pensando que poderia ter sido mais forte, que poderia ter tentado derrubá-lo. Minha razão diz que não podia ter feito nada. Foi tudo muito rápido. Mas a mesma não me deixa dormir repassando cada passo desde a entrada daquele marginal no ônibus.

Quando o ônibus parou na Favela do Mandela eu o vi sair detrás de um posto. Achei a atitude suspeita, mas pensei que poderia estar sendo preconceituosa. Ele entrou pela porta de saída do ônibus, sentou próximo e fingiu que dormia. Cheguei a olhar pra ele e pensar que atitude era suspeita, mas estava tão cansada que simplesmente fechei os olhos e continuei ouvindo o programa de rádio. A viagem durou pouco, o ato de violência durou menos ainda, mas é como se eu tivesse sido marcada com brasa quente durante um longo período.

Acho que a palavra que melhor se encaixa com o que estou sentindo é ódio. Ódio de mim, ódio daquele verme desprezível, ódio das autoridades que permitiram que as coisas chegassem a esse ponto. Mas principalmente ódio de não ter feito nada mais do que uma queda de braço com meu algoz. Sim, eu reagi. Minha vontade era correr atrás dele, e socá-lo até ver sua blusa vermelha manchada com seu sangue. Bater até que ele se arrependesse de ter nascido. Essa sede por sangue me domina de uma forma descomunal.

Duas músicas não saem da minha cabeça: A paz que eu não quero seguir do Rappa e uma outra do Legião Urbana cujo nome não me recordo. Desta última, as partes que não me saem da cabeça são quando o autor diz “Vamos cantar juntos o hino nacional, a lagrima é verdadeira...vamos comemorar juntos com festa, velório e caixão. Está tudo morto e enterrado agora...”. A música do Rappa diz que “as grades do condominio são pra trazer proteção, mas também trazem a dúvida se é você que está nessa prisão. Me abraça e me dê um beijo, faça um filho comigo, mas não me deixe sentar na poltrona num dia de domingo. Procurando novas drogas de aluguel nesse vídeo coagido. É pela paz que eu não quero seguir admitido...”.

Eu adoraria que minha voz fosse tão forte a ponto de incomodar cada pessoa responsável pelo meu infortúnio, desde o governador até o coronel de merda que fica sentado sem fazer nada mamando nas tetas do Estado e contando sua propina. Eu queria que minha voz se unisse a tantas outras vozes que já passaram pelo que eu estou passando. Porque não existe uma única pessoa que não tenha vivido, mesmo que de maneira indireta, o que eu vivi. Quem não conhece alguém que foi assaltado levante a mão e reze pra continuar tendo essa sorte.

O pior de tudo é sermos apenas mais um número nas estatísticas da violência. É estar num local de pseudo segurança, cercados por policiais e simplesmente se sentir o menor e mais indefeso ser da Terra. Eu agradeço de todo o coração os dois jovens PMs que me deram socorro. Mas se esse delinqüente não tivesse certeza que sairia ileso, eu não estaria fazendo parte de mais uma estatística. Eu não estaria sem meu celular, sem acesso a Internet e sem meu precioso sono.

sábado, 13 de novembro de 2010

A Morte da Alma

Uma estaca encravada em meu peito sangra

A dor lancinante que atormenta minha alma

Fundia-se com a dor de meu peito em chamas

Mudara e ocultara a verdade estranhamente

E como um mendigo vagara arfante

No meio do nada, no meio de tudo.

Sem rumo, confusa, atribulada, errante

No peito uma dor, na alma uma morte

Se tudo fosse simples, simples seria

Se nada fosse simples, simples não estaria

Outrora a verdade libertara o coração ferido

Nesta hora a verdade aprisiona a alma cansada.

Um mundo, o escuro, um instante que separa

A roda, a vida, a magia, a ilusão, a farsa

Platão, Sócrates e a palavra

A verdade é mentira

A mentira é verdade

Esquecemos ao longo da vida

Essa grande máxima.

Palavra

Causa, efeito, malfeito, refeito

O verbo

Incerto, desperto, desconexo, controverso

Palavra e verbo

Verbo e palavra

Oculto, insulto, insano, imundo

Cada lado de uma moeda

Cada cara, cada coroa

A mesma coisa

O mesmo lado

O mesmo acaso

O mesmo caso.

E tudo não deixou de ser um devaneio tolo

De uma tola que acredita que escreve.

(Edilene Almeida - 31/10/2010)

domingo, 7 de novembro de 2010

A Arte de Reconhecer


Nos últimos meses me dediquei a pensar sobre a vida. Particularmente a minha vida. E descobri que muitas vezes deixamos de ser nós mesmos e isso é uma responsabilidade totalmente nossa. Temos a incrível capacidade de nos distanciarmos de nós mesmos quando é necessário.
Acho muito engraçada essa necessidade que temos de ter um objetivo na vida. Não vivemos sem planos. Descobri recentemente que há culturas onde o porvir é somente o porvir. Tento viver sem pensar muito sobre o futuro, mas na nossa cultura newtoniano-cartesiana isso é muito difícil.
Ficamos sem chão quando não olhamos pro futuro e traçamos metas. É difícil viver sem ter planos, e mesmo aqueles seres que parecem constantemente despreocupados, em algum momento se atormentam com a idéia do que será feito amanhã.
Quando resolvi me dedicar mais a mim e a minha redescoberta, peguei-me sonhando sonhos antigos e tracei metas. Acredito que não precise dizer que boa parte dos meus planos não passaram de fogo de palha. Não consegui cumprir metade do que planejara. E por mais absurdo que possa parecer, consegui não me culpar.
Como disse recentemente para um amigo, a culpa nos puxa pra baixo e não nos permite evoluir. Quando nos sentimos culpados por algo, tendemos a nos ver também como vitimas. Vitimas são aquelas pessoas incapazes de mudar a situação em que se encontram. Uma das definições do dicionário para “vítima” é: 4. Pessoa que sofre o resultado funesco de seus próprios sentimentos. (Michaelis 2008)
Outro significado para a mesma palavra é sacrificar-se. O sacrifício que nos impomos quando nos portamos como vítimas é lento e doloroso. Embora nos entreguemos ao sacrifício, muitas vezes, com boa vontade o resultado dessa entrega é esperado, é ruim. Nos colocamos a chorar ou simplesmente engolimos o choro.
De qualquer maneira, nosso corpo sofre sempre como se nos impuséssemos a castigos corporais. Ou descontamos nossa angústia comendo demais ou não comemos. Não dormimos direito ou dormimos muito. Nossa vida dá um giro inesperado e violento. Sentimos o chão faltar, o ar faltar e tudo mais parece incerto e confuso.
Quando nos colocamos como vítimas não enxergamos além do nosso próprio nariz. Projetar, planejar, ou simplesmente criar alternativas para a dor lancinante cesse, nos faz sentir melhor. Todavia a diferença entre o remédio e o veneno está na dose. Quando não dosamos bem nossos planos e metas podemos incorrer no risco de serem substitutos tão dolorosos quanto a vitimização que nos predispomos.
Quando traçamos planos complexo demais ou muito fora de nossa realidade, nós não os concluímos. Geralmente sequer o iniciamos, o que nos faz sentir culpa, levando-nos a dor e a sensação de incapacidade crônica. Entramos num ciclo vicioso de excitação e culpa. Nos excitamos com a possibilidade de mudança, nos deixamos arrebatar pela idéia da novidade, do que somos capazes. Quando não conseguimos iniciar ou concluir nossos projetos, nos vemos da pior maneira possível.
Adoro uma passagem do “Pequeno Príncipe” onde ele conhece um Rei de um planeta deserto, e declara a este rei sua paixão pelo pôr-do-sol. O rei diz que se era capaz de ordenar ao sol que este se poria quantas vezes fosse-lhe solicitado. O pequeno príncipe pede ao rei que ordene ao sol se pôr, e o rei lhe responde que não pode ordenar aquilo que seus súditos não são capazes de cumprir.
Entender nossos limites é o primeiro passo rumo ao auto conhecimento, e o auto conhecimento é o primeiro passo para a felicidade. Certa vez me disseram que só somos capazes de amar quando nos amamos primeiro. Acredito que só estamos aptos para a felicidade se nos atentarmos para nós mesmos, se percebermos cada momento como um momento de felicidade. E aprendermos a guardar as lembranças boas para quando passarmos por momentos difíceis.
Meu pequeno príncipe pegou catapora. Nos primeiros dias ele sentiu um enorme desconforto e ficou muito amuado. Chorava a toa, não queria comer e não conseguia dormir. No entanto quando cheguei na casa da minha mãe para buscá-lo ele abriu um largo sorriso e me disse que me amava. As crianças são assim, elas são capazes de sorrir mesmo na dor. Elas são capazes de viver cada momento no seu momento. Acho que esse é o segredo para ser feliz.
Bom, todo esse papo começou porque resolvi contar pra uma jovem sonhadora de vinte e dois anos que me separei, que me pus a escrever num blog, e que futuramente pretendo publicar um livro. Fui afrontada com uma pergunta que me fez pensar. Esta jovem sonhadora, com a inocência de uma criança, perguntou-me qual o objetivo de escrever um livro.
Lembrei-me de uma pequena história de Cecília Meireles, onde o diabo encontra uma criança que faz com seu dedo um buraco no chão, e quando a interroga sobre seu objetivo, a criança simplesmente lhe responde que não há objetivo, que somente está fazendo um buraco no chão com o dedo.
Acredito que seja esse o meu objetivo: apenas escrever um livro e publicá-lo. Às vezes não precisamos de um objetivo pra começarmos algo. Precisamos começar, e depois se houverem frutos, que sejam colhidos no momento próprio e oportuno. Se não houver frutos, pelos menos houve a tentativa de formá-los.
Não é incomum a não ação, quando não temos certeza dos resultados advindos da ação. No entanto, se formos racionalizar sempre, não teremos tempo de agir. Há momentos em que devemos nos despir da razão e simplesmente ouvir a voz do coração. Entregar-se ao inesperado pode ser um bom exercício.
“Hoje o meu coração mudou
Já não sei por que vim, quem sou
Mas o que sou capaz
E o resto tanto faz.
Foi só eu descansar
Junto ao pé de uma árvore
Que me acolheu
E depois me ocorreu.
Vi que a vida que vivia em mim
Agora vive aqui nesse lugar
Em volta das sombras
Essa ilha é a reunião das infinitas direções
Que o vento traz com as ondas.
E é quando me vejo a garimpar
As pedras, a montanha, o seu olhar
Rest la maloya, rest la maloya
Rest la maloya, rest la maloya
Rest là meme
Essa menina, essa menina
Essa menina, essa menina vem me dizer.
Apesar de saber
Que nem tudo que eu quis
Eu pude conhecer
Nem deu pra mais prazer
Se cheguei até aqui
Bem no topo do vulcão
Não posso mais descer
Mas tem como escorrer.
Porque a natureza do amor
Está contida na beleza
E na surpresa das manhãs
Dias que parecem tão iguais
Mas de repente vem
Sinais de uma nova magia
Depois desse encontro singular
O mato, o rum, o vinho, o mel e o mar
Essa menina, essa menina
Essa menina, essa menina vem me dizer.
Rest la maloya, Rest la maloya,

Rest la maloya, Rest la maloya,
Rest là-même

Essa mania, essa mania, essa mania

Essa mania de viver

Essa mania, essa mania, essa mania

Essa mania de viver

Rest la maloya, Rest la maloya,

Rest la maloya, Rest la maloya,
Rest là-même

Rest la maloya, Rest la maloya,

Rest la maloya, Rest la maloya,
Rest là-même.”

(Essa mania – Mart’Nália)

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Conversas Sobre o Amor

Um amigo me disse esta semana que não acredita nesse amor idealizado que as pessoas pregam. Para ele somos capazes de amar muitas vezes ao longo da vida. Completei dizendo que, não apenas somos capazes de amar inúmeras vezes, como também de inúmeras formas, mais a coisa mais difícil do mundo é amar inúmeras vezes e de diferentes maneiras uma única pessoa.

Assim como ele, não sou capaz de acreditar num amor idealizado. No que chamo de amor romântico. Ele nos encarcera, nos deixa sempre insatisfeito. Quando vemos uma linda história de amor, pensamos no porque de não termos uma história igual. Olhamos para o objeto de nosso desejo – o amor, e o vemos transparecer no primeiro ser que nos apresenta uma visão otimizada de amor.

As músicas cantam o amor puro, o amor intenso, o amor irreal. A saudade de um amor perdido, o sofrimento de um coração partido. E nos deixamos levar por essa onda de nostalgia e melancolia e pensamos como desejamos sentir tal emoção. Todavia deixamos de ver que, assim como a música e os filmes têm duração certa, assim também são os momentos de amor.

Vivemos várias histórias de um lindo amor durante a vida, mas nada é eterno, e se o fosse jamais perceberíamos esses momentos. Li certa vez que se nós vivemos na água, esta seria a última coisa que descobriríamos. Por muito tempo se acreditou que o oxigênio puro era bom, no entanto ao longo da história da medicina descobriu-se que, na verdade a pureza do oxigênio danifica as células cerebrais.

Daniel Schreder acreditava que era capaz de resolver todos os problemas ortopédicos com seus equipamentos. Mas no fim descobriu-se que a privação de movimentos, mesmo que esses sejam posturas incorretas, são necessários para o bom desenvolvimento dos ossos.

Esses são simplórios exemplos, trazidos de uma forma leiga e pouco detalhada, mas como pessoas ligadas a razão erram, também nó podemos errar. E esses exemplos são metáforas que servem pra nos mostrar que vivenciamos momentos de puro amor ao longo de nossas vidas, eles só não têm como ser eternos, mas existem. A perfeição apesar de ser uma meta de todos, não existe. Nada é perfeito. Nada é eterno. Nunca é nunca. O equilíbrio não existe. O caos não impera sozinho. Somos seres dicotômicos.

O que esquecemos muitas vezes é que o amor depende de duas pessoas, e que uma delas pode não estar querendo o mesmo que a outra. Quando digo que nada é perfeito e que equilíbrio não existe, estou longe de dizer que devemos beijar o sapo durante toda a vida e esquecer o fato de que ele nunca será um príncipe. Apenas que não devemos deixar de viver momentos bons e gostosos por conta de uma busca impossível.

Talvez pense que eu sou racional demais e talvez estejam certos. Mas entregar-se a tudo com força e sem medo é algo difícil de fazer quando não usamos a razão. Em nossas vidas devemos sempre pesar os benefícios e malefícios de nossos atos. Caso contrário viveremos sob o signo do medo, nos aprisionando em algemas fechadas por nós mesmos, engolindo suas chaves e nos impedindo de valer todas as cores da vida.

Amar quem nos ama é muito difícil. Algumas pessoas conseguem encontrar sua “alma gêmea” enquanto outras parecem ser destinadas à eterna insatisfação no amor. Adorei o filme “Vick, Cristina e Barcelona”, mas acredito que existam muitos outros tipos de pessoas além da eterna sonhadora e da eterna insatisfeita, embora esse sejam os papeis mais comum de acharmos.

Os cientistas, os jornalista e os aproveitadores sempre publicam algo sobre como podemos ser felizes, amados, ricos. Sempre com suas fórmulas mágicas, suas receitas de bolo. Mas acredito que os seres humanos são diversos demais, complexos demais e que nunca seremos capazes de encontrar um receita prêt-à-porter para a felicidade. Soluções mágicas não existem. Mas sempre temos bons momentos para recordar, boas histórias pra contar e pessoas ao redor pra amar.

Vamos olhar para o sol, seu nascer e seu poente, admirar as estrelas, olhar pras crianças na rua. Já perceberam como as crianças são capazes de viver o momento como se nada mais existisse. Talvez devamos olhar mais as crianças e aprender com elas o segredo da felicidade. Vi um documentário na Record onde uma menina muito pobre ficava feliz apenas de receber um biscoito recheado, coisa que não via com freqüência. Ela não estava preocupada se teria a oportunidade de comer novamente em outro momento aquele biscoito, ela só estava feliz de comê-lo naquele momento e compartilhá-lo com seus irmãos.

A alegria não é eterna, mas se nos permitirmos ela pode ser constante.

TEMPOS FUGIT

O sol, a praia a companhia perfeita

O mar batendo na rocha eterna

As cores, os sons, os amores

Poesia, poema, tema

Eu e você, nós dois

Perdido no espaço

Perdidos no laço

Perdidos no tempo

Perdidos de nós mesmos.

A rua, o céu como testemunha

De um lindo dia de sol

De um momento perfeito

Sublime tentativa de um eleito

Conversas sinceras

Conversas verdadeiras

Um sussurro, um silêncio oculto

O mudo encanto da Terra.

Os olhos perfeitos

Olhares suspeitos

A boca saudosa

O corpo refeito

A natureza vaidosa

Olhava rancorosa

Por tanta admiração

Olhos nos olhos

Boca na boca

Sonho perfeito

De um dia fugido

Um dia partido

Entre a alegria

E a culpa.

A culpa nos puxa

Nos impede de ser

Plenamente felizes

Momento único

Momento sublime

Momento de felicidade

Momento eterno

Momento etéreo

Nosso momento.

(Edilene Almeida – novembro 2010)

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Segundo Turno Eleições 2010

Hoje uma mulher entrou pra história do nosso país ao se tornar à primeira mulher eleita presidente. Assim como muitos países, nós agora temos uma mulher como representante da nação. O cerne da discussão em todos os lugares desde a escolha dessa mulher para a candidatura girou em torno da capacidade técnica para o cargo, uma vez que, embora estivesse à frente de importantes pastas do governo, ela nunca exercera um cargo de tamanha importância.

Se pararmos pra olhar a história de muitos de nossos presidentes, veremos que a experiência nunca foi um fator de grande importância num primeiro turno. Jango, embora fosse um ótimo técnico, possuía bem pouca capacidade de diplomacia. Nosso atual presidente também não tinha exercido nenhum cargo eletivo até 2002. Aprendeu a duras penas que para ser um bom presidente ele teria que ceder para algumas classes e, assim aprendeu que para ganhar era necessário perder algumas vezes.

Tomar decisões é algo muito difícil, ainda mais quando se tem nas mãos a vida de milhares de pessoas. Quando o destino de uma nação depende de você. Todavia ao contrário do que a maioria das pessoas pensam, em nossa nação o presidente não decide sozinho. Temos um Congresso e um Senado que auxiliam na tomada das decisões. E também o povo, que manifesta sua vontade não apenas na escolha de seus representantes, mas também, através de referendos e plebiscitos e iniciativa popular.

Assim, o destino da nação não fica entregue nas mãos de apenas uma pessoa, mas de todos. Acredito que um dos maiores problemas de nosso país seja a educação. Sem ela as pessoas não são capazes de decidir o que é melhor nem para si, tampouco para a nação. Longe da noção de política que aprendemos no dia a dia, a política é feita de decisões que visam o interesse coletivo. Segundo o dicionário Michaelis (2008) Política é: 1. A arte ou ciência de governar. 2. Aplicação dessa arte nos negócios internos (política interna) ou nos negócios externos (política externa). 3. Conjunto dos princípios ou opiniões políticas. 4. Maneira de agir ou tratar com habilidade.

A nossa próxima presidente tem muitos desafios, dentre eles o de substituir um presidente que foi, senão sempre eloqüente, foi um dos presidentes mais populares dentro e fora do nosso país. E assim como diz o dicionário, deverá agir ou tratar com habilidades as questões mais delicadas referentes à política externa e interna. Ela deverá dar continuidade aos projetos de infraestrutura no país, aos programas de melhoria da saúde pública, e também ao desenvolvimento tecnológico e educacional. Afinal sem educação todo o resto é balela.

A educação e a saúde precisam ser olhadas com um carinho todo especial. Sem saúde não temos nada. Nem todo o dinheiro do mundo pode comprar a saúde. Sem educação não temos bons profissionais e nem cidadãos, temos apenas burros de carga. As obras de infraestrutura, em especial referentes ao saneamento básico, são primordiais para que haja uma melhoria na saúde pública e na educação, uma vez que sem saúde ninguém é capaz de aprender.

Vejo esses três, como fatores preponderantes na organização de planos estratégicos de governo, mas à longo prazo deverão se analisados outros fatores tão importantes quanto. Não se pode fazer política de curto prazo, precisamos de curto, médio e longo prazo. Soluções nunca são definitivas, mas precisam ser pensadas em todo o tempo, antevendo o que virá, para que não sejamos apenas bombeiros apagando incêndios.

Nosso país precisa mais do que nunca de um governante que não olhe apenas os números, mas que olhe a necessidade de cada cidadão, como sendo a necessidade de todo o país. Porque quando temos uma célula doente, todo o corpo sente os efeitos do desequilíbrio.