quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A Nuvem Negra e o Fogo Renovador

De repente me encontrei envolvida numa profunda nuvem de escuridão; e cercada pelo medo e a insegurança fui me entregando a ela como uma criança perdida se permite ser levada pelo primeiro adulto que a oferece ajuda. Estava tomada pelo conflito que se apoderava de mim: devia me entregar às trevas ou não? Será que eu deveria buscar fugir daquela nuvem que me envolvia e atordoava?

Um silêncio se apoderou de mim, e meus pensamentos se calaram. Como uma rocha que sente a batida incessante da água, ora fria, ora quente, eu sentia tudo e não era capaz de me mover. Dizem que a água bate até furar a pedra, eu não sei bem como, e nem porque, mas parecia que minha inércia era completa. Estava tão estática que a água sequer tocava a minha alma fria e desconsolada.

Renato Russo dizia em uma de suas canções que sempre existe um caminho, mas naquele fatídico momento eu não via caminho. Quando as sombras negras tentam nos tomar, não somos capazes de pensar ou mesmo de entender o que está acontecendo. A entrega total e sem luta parece ser sempre a melhor solução. É uma morte rápida e sem muita dor, como um tiro na cabeça.

Mas por que se entregar sem lutar? Se entregar ao vazio é como se tornar invisível. Como se nunca tivesse existido. Mas há momentos em que ser invisível é bom. Principalmente nos momentos em que a dor é tão grande que não somos capazes de ver além do horizonte. Um grande buraco negro tomou conta de mim.

O fogo queima meu corpo com suas intensas labaredas. Sinto minha existência se extinguindo aos poucos, enquanto minha alma dilacerada se esvai do meu corpo em processo de dissolução. Ouço uma voz me dizendo: “Do pó vieste e ao pó retornarás”. Meu corpo é reduzido a cinzas. A chama do fogo não se apagou. Ainda posso sentir o calor forte de suas labaredas ardentes.

O fogo vai me reconstruindo aos poucos. Sinto tudo se restabelecer como que por encanto. Meu novo corpo parece ainda mais forte que o anterior. Minha alma habita esse novo corpo e me mostra que também ela foi afetada por essa metamorfose dolorosa. A nuvem negra se desfaz lentamente, mostrando-me uma luz que cresce de forma gradual. Percebo que ganhei asas, mas somente pessoas iluminadas conseguem visualizá-las.

A glória só é vista por quem acredita nela. Assim, depois de todo processo concluído, levanto-me do chão. Recolho tudo que sobrou e lanço ao vento. O vento leva a dor, a mágoa, e tudo mais que não é necessário no momento. A água purificadora lava meu corpo e me mostra minha verdadeira cor, fazendo com que as últimas cinzas desapareçam. Agora é uma nova era, um novo começo, uma nova vida, um novo caminho, um novo lugar pra chamar de meu. Pelo menos por enquanto...

2 comentários:

  1. Muito bom Edilene! Gostei muito. O que me impressionou é que quando eu li este texto eu estava usando o celular, que eu configuro para não baixar imagens por conta do acesso lento a rede 3G, então não pude ver a imagem que escolheu para o post. Mas enquanto lia, imaginava justamente a Fênix com o seu mito de ressurgir das cinzas. Agora quando acessei novamente o blog, desta vez para deixar o meu comentário, me surpreendi com o desenho da Fênix.

    Parabéns pelo texto, está fantástico!

    Beijos

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  2. Oi minha linda. Adorei este texto. Fiquei pensando na Fenix.
    Será? Muitos bjs

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