domingo, 5 de dezembro de 2010

O Mar e Eu

Estava conversando com um amigo muito querido hoje, e contei pra ele minha experiência quase mística com o mar. Depois de cantar uma palhinha de um fado pra um amigo meu, o pessoal do trabalho dele ficou me chamando de sereia, então quando contei pra ele minha relação platônica com o mar ele riu e disse que entendia melhor que ninguém o motivo de eu ser chamada de sereia.

Bem, contei pra ele que mesmo não entrando na água, quando estou triste o mar sempre me ajuda a regenerar meu corpo e alma. Poseidon reina soberano nas águas salgadas do mar. Ele e a água são uma só personalidade, então há momentos em que o mar está calmo como a água de uma piscina, momentos em que a maré baixa nos permite ver um pouco mais o fundo de areia próximo à praia. Todavia, há momentos em que o mar está revolto e suas águas são mais perigosas que um leão faminto. É quando o mar está de ressaca que percebemos que ele não é sereno, mas um grande perigo.

O homem que subestima o mar é tragado por ele e desaparece, mas aquele que o respeita tem sua vida preservada. O mar de ressaca bate fortemente no que estiver no seu caminho, levando destruição por onde passa. Suas correntezas são traiçoeiras como um coração magoado ou como uma das velhas mouras, que cortam o fio da vida de pessoas muito jovens que ainda teriam muito pra viver.

Mas não temos como não olhar para o mar sem perceber sua beleza e sedução, mesmo quando ele parece muito bravio, e ainda assim atrai surfistas e loucos para si. As ondas do mar levam e trazem tudo que lhes é jogado. Não a toa algumas pessoas gostam de usá-lo como lugar para descanso de cinzas de algum ente querido, ou mesmo para lançar a dor de um amor perdido, ou o desejo de novos tempos, de novos desejos e realizações.

Desde os tempos mais remotos o mar sempre foi motivo de medo e admiração por nós. Sua beleza, seu ímpeto, seu cheiro, sua força e ousadia... o mar é sempre o mar, com seus tons de verde e azul, com sua estranha e linda sinfonia. Gosto de pensar em quantas histórias de amor, de dor, de alegria, de tristeza, de amizade, enfim, quantos sentimentos e histórias ele já foi capaz de presenciar e de esquecer como quem jamais tivesse existido antes.

É engraçado como me sinto quando vou a praia, mesmo que seja de noite, mesmo que eu não entre no mar e sinta seu doce toque na minha pele. Ainda assim sinto como se eu e o mar fossemos um só, ou parte de algo em comum. É nesses momentos que me recordo do meu breve encontro com as teorias da física quântica, e penso que talvez minha sensação tenha sentido. A água do mar evapora, é lançada no ar e encontra minha pele, meu corpo e o toca, e nesse momento passa a fazer parte de mim, passa a existir em mim. Assim também, meu suor evapora e é levado pelo ar para o mar e o toca, parte de mim está no mar.

Sei que parece loucura, mas sinto isso de forma tão intensa e mágica, é como se não houvesse barreiras entre mim e a água salgada do oceano. É como se nós fossemos amantes de longa data. Amantes afastados por algo ou alguém, e talvez esse alguém seja mesmo uma bruxa má invejosa por nossa relação de amor intenso, que nos separou.

O mar, meu Poseidon vive em mim como uma força estranha, única e poderosa. A água tem o poder de purificar minha alma. Eu e meu eterno amante, eternamente distante, e eternamente próximos, nos unimos em raros momentos de prazer puro e sublime, porque o amor é sublime, é soberano e é sobre-humano. Não pude encontrá-lo ontem como desejava, mas sei que ele está a minha espera tão ansioso quanto eu.

Como diz Dorival Cayme: “A onda do mar leva, a onda do mar traz. Quem vem pra beira da praia não volta nunca mais...”

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