terça-feira, 5 de outubro de 2010

Desconstruindo

Quando pensei em escrever um blog, jurei pra mim mesma que não escreveria nada sobre minha vida particular. Não seria como aquelas pessoas que fazem da vida privada um show público, mas vi que é impossível escrever sem se revelar, mesmo que seja um pouco. Não há quem leia Foucault sem perceber a repressão sexual sofrida por sua homossexualidade como força motriz de sua teoria. Lembro-me que a primeira publicação que li dele revelou sua opção sexual.

Somos transcritos o tempo todo quando nos propomos a escrever. Temos uma marca na escrita. Tive uma professora da faculdade que era obcecada pelo estudo da escrita. Ela guardava todos os trabalhos para compará-los com as monografias na tentativa de pegar alguma fraude. Essa marca, característica peculiar como uma digital, não nos permite desconstruir quem somos.

Quero usar este espaço para homenagear um anjo que foi alçado aos céus há uma semana. Ela era jovem, para os dias atuais, tinha pouco mais de sessenta anos e foi uma mulher incrível. Dona Leia, foi uma ótima mãe e não importa a quantidade de filhos que tinha, sempre aceitava mais um intruso como eu, e os amava de forma igual. Era uma ótima esposa, sempre companheira e amiga.

Peço pra jamais esquecer seu sorriso encantador e o cheiro delicioso da comida que ela cozinhava. Quando a conheci, morava numa pequena casa onde a cozinha e o quarto eram divididos por uma cortina. Não me recordo de sentir tão bem e acolhida como naquele cômodo. Para mim é muito difícil acreditar que não a verei mais. Que nunca mais verei aquele sorriso e sua voz terna dizendo que preciso visitá-la.

Seus filhos sentem o consolo de saber que ela não está mais sofrendo e que se encontra nos braços do pai, mas despedidas são sempre difíceis. A existência de algo além daquilo que vemos é sempre muito difícil. A saudade é sempre uma dor crônica, tem vezes que está mais fraca, tem vezes que está mais forte. Mas sempre nos acompanha.

Perdi minha avó há dez anos e sinto a mesma dor do dia de sua morte. Eu não superei essa perda. Tenho dificuldades de lidar com perdas como essa. Mas fico feliz de saber que existem pessoas que lidam bem com a morte. Segundo o dito popular a única certeza da vida é a morte. Outro dito diz que tudo na vida é passageiro, menos o motorista e o cobrador. A dor como tudo na vida é passageira. Às vezes ela vem e volta, às vezes ela some pra nunca mais voltar...

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