segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Melane e eu

Queria eu viver sem ti
Queria eu não te sentir tão perto
Maldita mandragora que me alucina
Você me faz sentir fraca
Você me mostra o quanto sou frágil
Eu odeio isso
Odeio não ser mais forte
Odeio desejar tanto...
Querer tanto...
E no fim ser arrebatada...
Ser silenciada...
E sozinha ter tua companhia.

Eu te dei um novo nome.
Eu quero recontar tua história
A minha história...
Melane é um bom nome
Pra eu não recordar tua agrura
Mudando o nome quem sabe...
Não mude a história.
Ou talvez simplesmente...
Eu te desconheça.

Estou aqui e não te quero
Não quero mais sentir teu gosto amargo
Você me soa como fel
Como um misto de enxofre e alho
Um cheiro que impregna na minha pele
Que gruda em mim como graxa
Que me consome e me alastra
Fazendo de mim um pedaço de papel
Você é nefasta, cruel...
Mas eu não te odeio
Eu não consigo...
Não é da minha natureza odiar.

Você vem travestida de bruxa
E há momentos em que me mostra
Que há esperança
E quando essa amiga te toma o lugar
Você se desespera
E volta a me encher com suas bobagens
Você me deprime
Me deixa confusa e amarga
Você tira de mim tudo de bom
Me joga no chão
Me tira o prazer
Mas eu devo admitir...
Voce me movimenta
Você me faz querer mais
E é por isso que eu sei...
Que apesar da dor
A vida é válida e...
Ainda há boas razões pra viver.

Você não vai me vencer
Eu sei onde você mora
E eu sei como tirar você de lá.

Sua morada não tem segredos
Você mora dentro de mim
E eu me conheço...
Eu conheço seus passos...
Eu não desisto e você?

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Presente de Grego

A tristeza, o tormento, a angustia...

A alegria se dissipou como o vento.

Foi embora sem dizer adeus.

E eu me prostro diante do inesperado

Esse algoz que teima em ser mal às vezes.

Thanatos e Hades desejam novas almas

Érebos lançou-se sobre mim como um manto

E sobre aqueles que amo.

Com suas asas, Érebo veloz o tomou...

Mas a alma ainda vive no meu amado amigo

Thanatos não o tomará pra si facilmente...

Peço, humildemente a urgência de Apolo

Socorre aquele que está em perigo

Alcance ele a graça e a misericórdia

Que ele não entre no Tártaro

Não antes que tenha vivido o suficiente

Amado o suficiente...

Ousado o suficiente pra perceber

Que a vida é mais do que simplesmente...

Orfeu console minha amiga

Que vê seu amado dormindo profundamente

Pede a Calíope sua mãe para cantar-lhe

A bela canção da esperança

Afaga seu rosto vermelho de choro

Diga-lhe que há retorno

Atenas dê coragem e força

Há duas guerreiras necessitando de seu auxilio

Amazonas feridas pela guerra da vida

Uma mãe e uma amante esposa

A chuva que cai nesta cidade

É a representação das lágrimas do céu

Lágrimas ansiosas de um sorriso teu

Desejo que retorne de seu sono

Para alegrar nossos corações

Aquiete novamente nossa mente com teu sorriso

Enriqueça nossa vida com teu escárnio

Vamos debater como aristocratas romanos

Vamos nos debruçar sobre o vinho de Baco

Estou te esperando pra uma próxima rodada...

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Exemplo de Superação

Tem momentos na vida em que desistir parece ser a melhor opção. Tudo parece muito difícil e viver é um martírio. Há momentos em que não vemos saída para nada. E é mais fácil se prostrar diante dos obstáculos do que rompê-los. Pensamos como Schopenhauer que não há nada de bom nesse mundo e que nossa vida é só sofrimento. Muitos se enclausuram em si mesmos, e param de acreditar em coisas boas e na beleza de pequenos momentos.
Estava no ônibus indo buscar meus filhos na casa da minha mãe e conheci uma senhora muito simpática que me contou que durante toda a vida nunca conseguiu aprender a ler e escrever. Casou-se cedo e foi abandonada pelo marido com dois filhos. Fiquei pensando na dificuldade dessa mulher em criar dois filhos não sabendo ler nem escrever. O pior é que ela sequer conseguia escrever números. Não conseguia ligar pra ninguém sem ajuda.
Acho que somente vivendo em um lugar onde desconhecesse completamente a língua escrita eu poderia sentir o que essa mulher sentiu por toda a vida. Mas apesar das dificuldades, ela criou sozinha os dois filhos, trabalhou, ajudou e ajuda seus filhos, netos e bisnetos. E alguns anos atrás ela resolveu estudar e se orgulha de si mesma por estar lendo e escrevendo. Com muita humildade ela me mostrou seu caderno de exercícios, enquanto contava, com os olhos mareados, o quanto isso a deixava feliz.
Ela me contou que algumas vezes achava tudo muito difícil e se entristecia acreditando que não seria capaz de aprender. Eu lhe disse que ela era capaz, que momentos de dificuldade sempre existiriam, mas com força de vontade essas dificuldades poderiam ser transpostas. Disse-lhe que Deus existia dentro dela e que se Ele podia todas as coisas, ela também poderia. Seus olhos se iluminaram de uma forma incrível e ela me disse que se lembraria de minhas palavras toda vez que algo parecesse impossível ou muito difícil.
Ela desceu do ônibus e sei que dificilmente a encontrarei de novo, mas fica em mim a lembrança de alguém que não se deixou abater pelas diversidades da vida e seguiu em frente buscando sua superação.


Pego-me errando e incerto de meu caminho
Pego-me correndo no deserto que há em mim
Pego-me vivendo o choro de algo que não existe
Pego-me olhando pro alto em busca de uma resposta.

A resposta não vem
Eu também não vou
A vida passa num instante
E abatida com minha triste companhia
A melancolia.

Maldita ou bendita
Ela me atormenta
Ri da minha cara
Faz pouco caso de mim
E me enfrenta

Eu cedo
Recebo
Adormeço em seus braços
Reconheço seus abraços
E me perco em seu aconchego

É estranho sentir que ela faz parte de mim
Uma parte ruim e boa
Ela me faz acordar e lutar
Porque se ela não me enfrentasse
Eu não me moveria

Sentir frio é normal
Sentir calor é normal
Sentir fome é normal
Sentir desejo é normal
Sentir tristeza é normal
Se entregar a tristeza pode não ser normal...

Mudanças são naturais
A relutância em mudar não é natural...

domingo, 5 de dezembro de 2010

O Mar e Eu

Estava conversando com um amigo muito querido hoje, e contei pra ele minha experiência quase mística com o mar. Depois de cantar uma palhinha de um fado pra um amigo meu, o pessoal do trabalho dele ficou me chamando de sereia, então quando contei pra ele minha relação platônica com o mar ele riu e disse que entendia melhor que ninguém o motivo de eu ser chamada de sereia.

Bem, contei pra ele que mesmo não entrando na água, quando estou triste o mar sempre me ajuda a regenerar meu corpo e alma. Poseidon reina soberano nas águas salgadas do mar. Ele e a água são uma só personalidade, então há momentos em que o mar está calmo como a água de uma piscina, momentos em que a maré baixa nos permite ver um pouco mais o fundo de areia próximo à praia. Todavia, há momentos em que o mar está revolto e suas águas são mais perigosas que um leão faminto. É quando o mar está de ressaca que percebemos que ele não é sereno, mas um grande perigo.

O homem que subestima o mar é tragado por ele e desaparece, mas aquele que o respeita tem sua vida preservada. O mar de ressaca bate fortemente no que estiver no seu caminho, levando destruição por onde passa. Suas correntezas são traiçoeiras como um coração magoado ou como uma das velhas mouras, que cortam o fio da vida de pessoas muito jovens que ainda teriam muito pra viver.

Mas não temos como não olhar para o mar sem perceber sua beleza e sedução, mesmo quando ele parece muito bravio, e ainda assim atrai surfistas e loucos para si. As ondas do mar levam e trazem tudo que lhes é jogado. Não a toa algumas pessoas gostam de usá-lo como lugar para descanso de cinzas de algum ente querido, ou mesmo para lançar a dor de um amor perdido, ou o desejo de novos tempos, de novos desejos e realizações.

Desde os tempos mais remotos o mar sempre foi motivo de medo e admiração por nós. Sua beleza, seu ímpeto, seu cheiro, sua força e ousadia... o mar é sempre o mar, com seus tons de verde e azul, com sua estranha e linda sinfonia. Gosto de pensar em quantas histórias de amor, de dor, de alegria, de tristeza, de amizade, enfim, quantos sentimentos e histórias ele já foi capaz de presenciar e de esquecer como quem jamais tivesse existido antes.

É engraçado como me sinto quando vou a praia, mesmo que seja de noite, mesmo que eu não entre no mar e sinta seu doce toque na minha pele. Ainda assim sinto como se eu e o mar fossemos um só, ou parte de algo em comum. É nesses momentos que me recordo do meu breve encontro com as teorias da física quântica, e penso que talvez minha sensação tenha sentido. A água do mar evapora, é lançada no ar e encontra minha pele, meu corpo e o toca, e nesse momento passa a fazer parte de mim, passa a existir em mim. Assim também, meu suor evapora e é levado pelo ar para o mar e o toca, parte de mim está no mar.

Sei que parece loucura, mas sinto isso de forma tão intensa e mágica, é como se não houvesse barreiras entre mim e a água salgada do oceano. É como se nós fossemos amantes de longa data. Amantes afastados por algo ou alguém, e talvez esse alguém seja mesmo uma bruxa má invejosa por nossa relação de amor intenso, que nos separou.

O mar, meu Poseidon vive em mim como uma força estranha, única e poderosa. A água tem o poder de purificar minha alma. Eu e meu eterno amante, eternamente distante, e eternamente próximos, nos unimos em raros momentos de prazer puro e sublime, porque o amor é sublime, é soberano e é sobre-humano. Não pude encontrá-lo ontem como desejava, mas sei que ele está a minha espera tão ansioso quanto eu.

Como diz Dorival Cayme: “A onda do mar leva, a onda do mar traz. Quem vem pra beira da praia não volta nunca mais...”