segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Melane e eu

Queria eu viver sem ti
Queria eu não te sentir tão perto
Maldita mandragora que me alucina
Você me faz sentir fraca
Você me mostra o quanto sou frágil
Eu odeio isso
Odeio não ser mais forte
Odeio desejar tanto...
Querer tanto...
E no fim ser arrebatada...
Ser silenciada...
E sozinha ter tua companhia.

Eu te dei um novo nome.
Eu quero recontar tua história
A minha história...
Melane é um bom nome
Pra eu não recordar tua agrura
Mudando o nome quem sabe...
Não mude a história.
Ou talvez simplesmente...
Eu te desconheça.

Estou aqui e não te quero
Não quero mais sentir teu gosto amargo
Você me soa como fel
Como um misto de enxofre e alho
Um cheiro que impregna na minha pele
Que gruda em mim como graxa
Que me consome e me alastra
Fazendo de mim um pedaço de papel
Você é nefasta, cruel...
Mas eu não te odeio
Eu não consigo...
Não é da minha natureza odiar.

Você vem travestida de bruxa
E há momentos em que me mostra
Que há esperança
E quando essa amiga te toma o lugar
Você se desespera
E volta a me encher com suas bobagens
Você me deprime
Me deixa confusa e amarga
Você tira de mim tudo de bom
Me joga no chão
Me tira o prazer
Mas eu devo admitir...
Voce me movimenta
Você me faz querer mais
E é por isso que eu sei...
Que apesar da dor
A vida é válida e...
Ainda há boas razões pra viver.

Você não vai me vencer
Eu sei onde você mora
E eu sei como tirar você de lá.

Sua morada não tem segredos
Você mora dentro de mim
E eu me conheço...
Eu conheço seus passos...
Eu não desisto e você?

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Presente de Grego

A tristeza, o tormento, a angustia...

A alegria se dissipou como o vento.

Foi embora sem dizer adeus.

E eu me prostro diante do inesperado

Esse algoz que teima em ser mal às vezes.

Thanatos e Hades desejam novas almas

Érebos lançou-se sobre mim como um manto

E sobre aqueles que amo.

Com suas asas, Érebo veloz o tomou...

Mas a alma ainda vive no meu amado amigo

Thanatos não o tomará pra si facilmente...

Peço, humildemente a urgência de Apolo

Socorre aquele que está em perigo

Alcance ele a graça e a misericórdia

Que ele não entre no Tártaro

Não antes que tenha vivido o suficiente

Amado o suficiente...

Ousado o suficiente pra perceber

Que a vida é mais do que simplesmente...

Orfeu console minha amiga

Que vê seu amado dormindo profundamente

Pede a Calíope sua mãe para cantar-lhe

A bela canção da esperança

Afaga seu rosto vermelho de choro

Diga-lhe que há retorno

Atenas dê coragem e força

Há duas guerreiras necessitando de seu auxilio

Amazonas feridas pela guerra da vida

Uma mãe e uma amante esposa

A chuva que cai nesta cidade

É a representação das lágrimas do céu

Lágrimas ansiosas de um sorriso teu

Desejo que retorne de seu sono

Para alegrar nossos corações

Aquiete novamente nossa mente com teu sorriso

Enriqueça nossa vida com teu escárnio

Vamos debater como aristocratas romanos

Vamos nos debruçar sobre o vinho de Baco

Estou te esperando pra uma próxima rodada...

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Exemplo de Superação

Tem momentos na vida em que desistir parece ser a melhor opção. Tudo parece muito difícil e viver é um martírio. Há momentos em que não vemos saída para nada. E é mais fácil se prostrar diante dos obstáculos do que rompê-los. Pensamos como Schopenhauer que não há nada de bom nesse mundo e que nossa vida é só sofrimento. Muitos se enclausuram em si mesmos, e param de acreditar em coisas boas e na beleza de pequenos momentos.
Estava no ônibus indo buscar meus filhos na casa da minha mãe e conheci uma senhora muito simpática que me contou que durante toda a vida nunca conseguiu aprender a ler e escrever. Casou-se cedo e foi abandonada pelo marido com dois filhos. Fiquei pensando na dificuldade dessa mulher em criar dois filhos não sabendo ler nem escrever. O pior é que ela sequer conseguia escrever números. Não conseguia ligar pra ninguém sem ajuda.
Acho que somente vivendo em um lugar onde desconhecesse completamente a língua escrita eu poderia sentir o que essa mulher sentiu por toda a vida. Mas apesar das dificuldades, ela criou sozinha os dois filhos, trabalhou, ajudou e ajuda seus filhos, netos e bisnetos. E alguns anos atrás ela resolveu estudar e se orgulha de si mesma por estar lendo e escrevendo. Com muita humildade ela me mostrou seu caderno de exercícios, enquanto contava, com os olhos mareados, o quanto isso a deixava feliz.
Ela me contou que algumas vezes achava tudo muito difícil e se entristecia acreditando que não seria capaz de aprender. Eu lhe disse que ela era capaz, que momentos de dificuldade sempre existiriam, mas com força de vontade essas dificuldades poderiam ser transpostas. Disse-lhe que Deus existia dentro dela e que se Ele podia todas as coisas, ela também poderia. Seus olhos se iluminaram de uma forma incrível e ela me disse que se lembraria de minhas palavras toda vez que algo parecesse impossível ou muito difícil.
Ela desceu do ônibus e sei que dificilmente a encontrarei de novo, mas fica em mim a lembrança de alguém que não se deixou abater pelas diversidades da vida e seguiu em frente buscando sua superação.


Pego-me errando e incerto de meu caminho
Pego-me correndo no deserto que há em mim
Pego-me vivendo o choro de algo que não existe
Pego-me olhando pro alto em busca de uma resposta.

A resposta não vem
Eu também não vou
A vida passa num instante
E abatida com minha triste companhia
A melancolia.

Maldita ou bendita
Ela me atormenta
Ri da minha cara
Faz pouco caso de mim
E me enfrenta

Eu cedo
Recebo
Adormeço em seus braços
Reconheço seus abraços
E me perco em seu aconchego

É estranho sentir que ela faz parte de mim
Uma parte ruim e boa
Ela me faz acordar e lutar
Porque se ela não me enfrentasse
Eu não me moveria

Sentir frio é normal
Sentir calor é normal
Sentir fome é normal
Sentir desejo é normal
Sentir tristeza é normal
Se entregar a tristeza pode não ser normal...

Mudanças são naturais
A relutância em mudar não é natural...

domingo, 5 de dezembro de 2010

O Mar e Eu

Estava conversando com um amigo muito querido hoje, e contei pra ele minha experiência quase mística com o mar. Depois de cantar uma palhinha de um fado pra um amigo meu, o pessoal do trabalho dele ficou me chamando de sereia, então quando contei pra ele minha relação platônica com o mar ele riu e disse que entendia melhor que ninguém o motivo de eu ser chamada de sereia.

Bem, contei pra ele que mesmo não entrando na água, quando estou triste o mar sempre me ajuda a regenerar meu corpo e alma. Poseidon reina soberano nas águas salgadas do mar. Ele e a água são uma só personalidade, então há momentos em que o mar está calmo como a água de uma piscina, momentos em que a maré baixa nos permite ver um pouco mais o fundo de areia próximo à praia. Todavia, há momentos em que o mar está revolto e suas águas são mais perigosas que um leão faminto. É quando o mar está de ressaca que percebemos que ele não é sereno, mas um grande perigo.

O homem que subestima o mar é tragado por ele e desaparece, mas aquele que o respeita tem sua vida preservada. O mar de ressaca bate fortemente no que estiver no seu caminho, levando destruição por onde passa. Suas correntezas são traiçoeiras como um coração magoado ou como uma das velhas mouras, que cortam o fio da vida de pessoas muito jovens que ainda teriam muito pra viver.

Mas não temos como não olhar para o mar sem perceber sua beleza e sedução, mesmo quando ele parece muito bravio, e ainda assim atrai surfistas e loucos para si. As ondas do mar levam e trazem tudo que lhes é jogado. Não a toa algumas pessoas gostam de usá-lo como lugar para descanso de cinzas de algum ente querido, ou mesmo para lançar a dor de um amor perdido, ou o desejo de novos tempos, de novos desejos e realizações.

Desde os tempos mais remotos o mar sempre foi motivo de medo e admiração por nós. Sua beleza, seu ímpeto, seu cheiro, sua força e ousadia... o mar é sempre o mar, com seus tons de verde e azul, com sua estranha e linda sinfonia. Gosto de pensar em quantas histórias de amor, de dor, de alegria, de tristeza, de amizade, enfim, quantos sentimentos e histórias ele já foi capaz de presenciar e de esquecer como quem jamais tivesse existido antes.

É engraçado como me sinto quando vou a praia, mesmo que seja de noite, mesmo que eu não entre no mar e sinta seu doce toque na minha pele. Ainda assim sinto como se eu e o mar fossemos um só, ou parte de algo em comum. É nesses momentos que me recordo do meu breve encontro com as teorias da física quântica, e penso que talvez minha sensação tenha sentido. A água do mar evapora, é lançada no ar e encontra minha pele, meu corpo e o toca, e nesse momento passa a fazer parte de mim, passa a existir em mim. Assim também, meu suor evapora e é levado pelo ar para o mar e o toca, parte de mim está no mar.

Sei que parece loucura, mas sinto isso de forma tão intensa e mágica, é como se não houvesse barreiras entre mim e a água salgada do oceano. É como se nós fossemos amantes de longa data. Amantes afastados por algo ou alguém, e talvez esse alguém seja mesmo uma bruxa má invejosa por nossa relação de amor intenso, que nos separou.

O mar, meu Poseidon vive em mim como uma força estranha, única e poderosa. A água tem o poder de purificar minha alma. Eu e meu eterno amante, eternamente distante, e eternamente próximos, nos unimos em raros momentos de prazer puro e sublime, porque o amor é sublime, é soberano e é sobre-humano. Não pude encontrá-lo ontem como desejava, mas sei que ele está a minha espera tão ansioso quanto eu.

Como diz Dorival Cayme: “A onda do mar leva, a onda do mar traz. Quem vem pra beira da praia não volta nunca mais...”

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A Nuvem Negra e o Fogo Renovador

De repente me encontrei envolvida numa profunda nuvem de escuridão; e cercada pelo medo e a insegurança fui me entregando a ela como uma criança perdida se permite ser levada pelo primeiro adulto que a oferece ajuda. Estava tomada pelo conflito que se apoderava de mim: devia me entregar às trevas ou não? Será que eu deveria buscar fugir daquela nuvem que me envolvia e atordoava?

Um silêncio se apoderou de mim, e meus pensamentos se calaram. Como uma rocha que sente a batida incessante da água, ora fria, ora quente, eu sentia tudo e não era capaz de me mover. Dizem que a água bate até furar a pedra, eu não sei bem como, e nem porque, mas parecia que minha inércia era completa. Estava tão estática que a água sequer tocava a minha alma fria e desconsolada.

Renato Russo dizia em uma de suas canções que sempre existe um caminho, mas naquele fatídico momento eu não via caminho. Quando as sombras negras tentam nos tomar, não somos capazes de pensar ou mesmo de entender o que está acontecendo. A entrega total e sem luta parece ser sempre a melhor solução. É uma morte rápida e sem muita dor, como um tiro na cabeça.

Mas por que se entregar sem lutar? Se entregar ao vazio é como se tornar invisível. Como se nunca tivesse existido. Mas há momentos em que ser invisível é bom. Principalmente nos momentos em que a dor é tão grande que não somos capazes de ver além do horizonte. Um grande buraco negro tomou conta de mim.

O fogo queima meu corpo com suas intensas labaredas. Sinto minha existência se extinguindo aos poucos, enquanto minha alma dilacerada se esvai do meu corpo em processo de dissolução. Ouço uma voz me dizendo: “Do pó vieste e ao pó retornarás”. Meu corpo é reduzido a cinzas. A chama do fogo não se apagou. Ainda posso sentir o calor forte de suas labaredas ardentes.

O fogo vai me reconstruindo aos poucos. Sinto tudo se restabelecer como que por encanto. Meu novo corpo parece ainda mais forte que o anterior. Minha alma habita esse novo corpo e me mostra que também ela foi afetada por essa metamorfose dolorosa. A nuvem negra se desfaz lentamente, mostrando-me uma luz que cresce de forma gradual. Percebo que ganhei asas, mas somente pessoas iluminadas conseguem visualizá-las.

A glória só é vista por quem acredita nela. Assim, depois de todo processo concluído, levanto-me do chão. Recolho tudo que sobrou e lanço ao vento. O vento leva a dor, a mágoa, e tudo mais que não é necessário no momento. A água purificadora lava meu corpo e me mostra minha verdadeira cor, fazendo com que as últimas cinzas desapareçam. Agora é uma nova era, um novo começo, uma nova vida, um novo caminho, um novo lugar pra chamar de meu. Pelo menos por enquanto...

sábado, 20 de novembro de 2010

Manifesto Contra a Violência

Há dez anos atrás eu sofri um sequestro relâmpago, os bandidos olhavam pra mim e me chamavam de princesa. E cada vez que faziam isso eu sentia meu sangue ferver e uma vontade, quase incontrolável, de bater ferozmente neles até que o sangue deles manchasse minha roupa negra. Estavam muito nervosos provavelmente era um dos primeiros crimes que cometiam. Os bandidos nos levaram para a Ilha do Fundão, onde geralmente se desovavam corpos. Quando vi o carro entrar na Ilha, acreditei que de lá não sairia viva. Dava como certo o meu estupro e morte. Eles ficaram rodando conosco por cerca de uma hora, e nos deixaram na Linha Amarela, indo em direção à Avenida Brasil.

Sugeri ao meu amigo que fossemos dar queixa na 22ª DP. Próximo ao Mc Donalds havia uma patrulha, nos aproximamos e eles disseram que não poderiam fazer nada. Demos queixa e sentimos toda a frieza dos policiais, quando dissemos que o carro não tinha seguro. Na época as coisas eram mais simples. Algum tempo depois os sequestros ficaram mais agressivos, e eles obrigavam as vitimas a sacar dinheiro em agencias bancárias 24h.

Posso dizer que dei sorte, pois não me levaram nada. Todavia no dia 16 deste mês, sofri um assalto no ônibus e um rapaz negro, magro e jovem, de camisa vermelha, arrancou violentamente meu celular das minhas mãos, quase levando junto minha orelha. Ele entrou no ônibus em que eu estava, observou, viu que eu estava com uma criança, que era mulher. Quando o motorista abriu a porta do ônibus em frente a um polígono da polícia, ele me roubou o celular e o sossego.

Um ano antes um desconhecido levou meu celular no ônibus no Alto da Boa Vista, mas esse eu não vi quem era. Algumas semanas antes do assalto, me levaram um outro aparelho, novamente um desconhecido se aproveitou que eu estava com criança, para sorrateiramente levar meu celular. E alguns dias atrás isso foi feito de forma violenta.

O motorista do ônibus ainda deu uma volta pra ver se encontrava o rapaz, mas nada. Ele passou por três patrulhas da polícia e ninguém o viu. Parei em um dos carros e alertei, fiquei surpresa quando os policiais pediram que entrasse no carro e saíram em busca do meliante. Esses policiais não fizeram como os anteriores, eles se propuseram a fazer o seu trabalho. Passaram um rádio pras outras patrulhas pedindo que observassem caso vissem algum rapaz com a descrição que eu lhes dera.

Nada que foi feito tirou de mim a dor de ter um bem que eu conquistara com tanto esforço ser tirado de forma violenta de minhas mãos. O problema maior é a certeza que os criminosos tem da impunidade. O rapaz que me assaltou provavelmente era menor. Se pego, ele vai cumprir medida sócio educativa e depois, provavelmente, vai retornar para o crime. Sei que fui abençoada por encontrar pessoas de bem, que se dispuseram a me ajudar da maneira como podiam.

Mas precisamos muito mais do que UPPs para solucionar o problema da violência. Precisamos que os jovens de comunidades pobres vejam uma perspectiva de futuro melhor do que trabalhar como boy, ou não ter trabalho. É mais do que necessário que se invista em educação, e principalmente na educação para o trabalho. Precisamos que os governantes deixem de roubar com obras superfaturadas e invistam em geração de emprego e renda.

Precisamos apresentar um futuro melhor e mais digno para que esses meninos não sejam atraídos pelo dinheiro fácil e pelo tráfico de drogas e armas. Precisamos, todos nós, de esperança de um futuro, não muito distante, onde não teremos medo de andar nas ruas. Onde não tenhamos medo de andar com os bens que conquistamos com nosso suor. Onde não tenhamos que andar com dois celulares, o nosso e do iminente ladrão.

Não podemos nos culpar pela desordem e o caos, não quero ser vitima, mas também não quero ser culpada por não ter tido cuidado suficiente para resguardar meus parcos bens. Não quero ficar noites em claro pensando no que poderia ter feito pra evitar que um qualquer da sociedade me privasse de algo que eu, com trabalho honesto, comprei. Não quero pensar nos sapos que engulo todos os dias, na falta que sinto dos meus filhos, no tempo perdido no trânsito em que poderia estar sendo mais útil, e que usei pra comprar aquele celular e que me foi tirado.

Não aceito mais a vergonha do nosso país. A vergonha da minha cidade. A vergonha de não me sentir segura pagando os altos impostos que pago, para que ladrões de colarinho branco possam viajar em jatos particulares, terem seguranças particulares, para pagarem caras escolas pros seus filhos, enquanto que eu luto diariamente para pagar uma escolinha não muito cara, para que meus filhos não sejam esmagados pela educação pública.

Não aceito que essa corja de assassinos e ladrões minta descaradamente que são honestos enquanto pagam esmolas para que a população menos instruída os mantenham no poder. Não podemos aceitar calados aos mandos e desmandos de uma minoria que mama das tetas da maioria trabalhadora.

Eu quero dar um basta a essa corrupção, um basta à falta de bom senso das pessoas que se deixam iludir com falsas promessas. A repressão é necessária, mas junto com ela tem que haver outras medidas que impeçam que sejamos alvo da fúria dos marginais. Que percamos nossa paz.

CHEGA, pra mim CHEGA.

A PAZ QUE EU NÃO QUERO SENTIR

Essa é a segunda parte do meu manifesto pessoal contra a violência.

São duas horas da manhã e apesar de ter tomado uma taça de vinho pra relaxar, um banho quente (e quem me conhece sabe que é bem quente mesmo), eu não consigo dormir. Sinceramente não foi a discussão de meus vizinhos gays que me tirou o sono, tampouco o frio que senti invadir meu corpo e alma. Apesar da tentativa frustrada de meditar dizendo pra mim mesma entre uma expiração e outra que “Deus está dentro de mim”, sequer eu mesma estava dentro de mim.

A imagem da fração de segundos em que fui vitima (e como me dói dizer, escrever ou pensar nessa palavra) da violência de nossa cidade. Para alguns pode parecer um pouco de exagero, mas desde que me entendo por gente jamais havia, sequer presenciado um assalto na Praça das Nações. O pior de tudo foi isso acontecer em frente a um posto policial, numa das ruas mais movimentadas, e com bastante movimento.

Desta vez não foi à dor de perder meu celular, mas... não adianta tentar racionalizar o que estou sentindo. Impotência não diz muito, é mais. Frustração talvez, mais também não fala tudo. É um misto de sentimentos que vão da raiva à culpa, da revolta a dor que dilacera meu peito e me faz sentir absurdamente fraca. Sempre fui tão cuidadosa, sempre consegui ver nos olhos de alguém sua intenção. E agora não dei ouvidos aos meus instintos que diziam que aquele rapaz de rosto suave e traços finos era, na verdade, um aprendiz de marginal. Sim, porque roubar um celular da mão de uma mãe não é coisa de um criminoso experiente, mas de um aprendiz.

Fico, como um ator que ensaia uma peça, repassando aquela fração de segundos, pensando que poderia ter sido mais forte, que poderia ter tentado derrubá-lo. Minha razão diz que não podia ter feito nada. Foi tudo muito rápido. Mas a mesma não me deixa dormir repassando cada passo desde a entrada daquele marginal no ônibus.

Quando o ônibus parou na Favela do Mandela eu o vi sair detrás de um posto. Achei a atitude suspeita, mas pensei que poderia estar sendo preconceituosa. Ele entrou pela porta de saída do ônibus, sentou próximo e fingiu que dormia. Cheguei a olhar pra ele e pensar que atitude era suspeita, mas estava tão cansada que simplesmente fechei os olhos e continuei ouvindo o programa de rádio. A viagem durou pouco, o ato de violência durou menos ainda, mas é como se eu tivesse sido marcada com brasa quente durante um longo período.

Acho que a palavra que melhor se encaixa com o que estou sentindo é ódio. Ódio de mim, ódio daquele verme desprezível, ódio das autoridades que permitiram que as coisas chegassem a esse ponto. Mas principalmente ódio de não ter feito nada mais do que uma queda de braço com meu algoz. Sim, eu reagi. Minha vontade era correr atrás dele, e socá-lo até ver sua blusa vermelha manchada com seu sangue. Bater até que ele se arrependesse de ter nascido. Essa sede por sangue me domina de uma forma descomunal.

Duas músicas não saem da minha cabeça: A paz que eu não quero seguir do Rappa e uma outra do Legião Urbana cujo nome não me recordo. Desta última, as partes que não me saem da cabeça são quando o autor diz “Vamos cantar juntos o hino nacional, a lagrima é verdadeira...vamos comemorar juntos com festa, velório e caixão. Está tudo morto e enterrado agora...”. A música do Rappa diz que “as grades do condominio são pra trazer proteção, mas também trazem a dúvida se é você que está nessa prisão. Me abraça e me dê um beijo, faça um filho comigo, mas não me deixe sentar na poltrona num dia de domingo. Procurando novas drogas de aluguel nesse vídeo coagido. É pela paz que eu não quero seguir admitido...”.

Eu adoraria que minha voz fosse tão forte a ponto de incomodar cada pessoa responsável pelo meu infortúnio, desde o governador até o coronel de merda que fica sentado sem fazer nada mamando nas tetas do Estado e contando sua propina. Eu queria que minha voz se unisse a tantas outras vozes que já passaram pelo que eu estou passando. Porque não existe uma única pessoa que não tenha vivido, mesmo que de maneira indireta, o que eu vivi. Quem não conhece alguém que foi assaltado levante a mão e reze pra continuar tendo essa sorte.

O pior de tudo é sermos apenas mais um número nas estatísticas da violência. É estar num local de pseudo segurança, cercados por policiais e simplesmente se sentir o menor e mais indefeso ser da Terra. Eu agradeço de todo o coração os dois jovens PMs que me deram socorro. Mas se esse delinqüente não tivesse certeza que sairia ileso, eu não estaria fazendo parte de mais uma estatística. Eu não estaria sem meu celular, sem acesso a Internet e sem meu precioso sono.

sábado, 13 de novembro de 2010

A Morte da Alma

Uma estaca encravada em meu peito sangra

A dor lancinante que atormenta minha alma

Fundia-se com a dor de meu peito em chamas

Mudara e ocultara a verdade estranhamente

E como um mendigo vagara arfante

No meio do nada, no meio de tudo.

Sem rumo, confusa, atribulada, errante

No peito uma dor, na alma uma morte

Se tudo fosse simples, simples seria

Se nada fosse simples, simples não estaria

Outrora a verdade libertara o coração ferido

Nesta hora a verdade aprisiona a alma cansada.

Um mundo, o escuro, um instante que separa

A roda, a vida, a magia, a ilusão, a farsa

Platão, Sócrates e a palavra

A verdade é mentira

A mentira é verdade

Esquecemos ao longo da vida

Essa grande máxima.

Palavra

Causa, efeito, malfeito, refeito

O verbo

Incerto, desperto, desconexo, controverso

Palavra e verbo

Verbo e palavra

Oculto, insulto, insano, imundo

Cada lado de uma moeda

Cada cara, cada coroa

A mesma coisa

O mesmo lado

O mesmo acaso

O mesmo caso.

E tudo não deixou de ser um devaneio tolo

De uma tola que acredita que escreve.

(Edilene Almeida - 31/10/2010)

domingo, 7 de novembro de 2010

A Arte de Reconhecer


Nos últimos meses me dediquei a pensar sobre a vida. Particularmente a minha vida. E descobri que muitas vezes deixamos de ser nós mesmos e isso é uma responsabilidade totalmente nossa. Temos a incrível capacidade de nos distanciarmos de nós mesmos quando é necessário.
Acho muito engraçada essa necessidade que temos de ter um objetivo na vida. Não vivemos sem planos. Descobri recentemente que há culturas onde o porvir é somente o porvir. Tento viver sem pensar muito sobre o futuro, mas na nossa cultura newtoniano-cartesiana isso é muito difícil.
Ficamos sem chão quando não olhamos pro futuro e traçamos metas. É difícil viver sem ter planos, e mesmo aqueles seres que parecem constantemente despreocupados, em algum momento se atormentam com a idéia do que será feito amanhã.
Quando resolvi me dedicar mais a mim e a minha redescoberta, peguei-me sonhando sonhos antigos e tracei metas. Acredito que não precise dizer que boa parte dos meus planos não passaram de fogo de palha. Não consegui cumprir metade do que planejara. E por mais absurdo que possa parecer, consegui não me culpar.
Como disse recentemente para um amigo, a culpa nos puxa pra baixo e não nos permite evoluir. Quando nos sentimos culpados por algo, tendemos a nos ver também como vitimas. Vitimas são aquelas pessoas incapazes de mudar a situação em que se encontram. Uma das definições do dicionário para “vítima” é: 4. Pessoa que sofre o resultado funesco de seus próprios sentimentos. (Michaelis 2008)
Outro significado para a mesma palavra é sacrificar-se. O sacrifício que nos impomos quando nos portamos como vítimas é lento e doloroso. Embora nos entreguemos ao sacrifício, muitas vezes, com boa vontade o resultado dessa entrega é esperado, é ruim. Nos colocamos a chorar ou simplesmente engolimos o choro.
De qualquer maneira, nosso corpo sofre sempre como se nos impuséssemos a castigos corporais. Ou descontamos nossa angústia comendo demais ou não comemos. Não dormimos direito ou dormimos muito. Nossa vida dá um giro inesperado e violento. Sentimos o chão faltar, o ar faltar e tudo mais parece incerto e confuso.
Quando nos colocamos como vítimas não enxergamos além do nosso próprio nariz. Projetar, planejar, ou simplesmente criar alternativas para a dor lancinante cesse, nos faz sentir melhor. Todavia a diferença entre o remédio e o veneno está na dose. Quando não dosamos bem nossos planos e metas podemos incorrer no risco de serem substitutos tão dolorosos quanto a vitimização que nos predispomos.
Quando traçamos planos complexo demais ou muito fora de nossa realidade, nós não os concluímos. Geralmente sequer o iniciamos, o que nos faz sentir culpa, levando-nos a dor e a sensação de incapacidade crônica. Entramos num ciclo vicioso de excitação e culpa. Nos excitamos com a possibilidade de mudança, nos deixamos arrebatar pela idéia da novidade, do que somos capazes. Quando não conseguimos iniciar ou concluir nossos projetos, nos vemos da pior maneira possível.
Adoro uma passagem do “Pequeno Príncipe” onde ele conhece um Rei de um planeta deserto, e declara a este rei sua paixão pelo pôr-do-sol. O rei diz que se era capaz de ordenar ao sol que este se poria quantas vezes fosse-lhe solicitado. O pequeno príncipe pede ao rei que ordene ao sol se pôr, e o rei lhe responde que não pode ordenar aquilo que seus súditos não são capazes de cumprir.
Entender nossos limites é o primeiro passo rumo ao auto conhecimento, e o auto conhecimento é o primeiro passo para a felicidade. Certa vez me disseram que só somos capazes de amar quando nos amamos primeiro. Acredito que só estamos aptos para a felicidade se nos atentarmos para nós mesmos, se percebermos cada momento como um momento de felicidade. E aprendermos a guardar as lembranças boas para quando passarmos por momentos difíceis.
Meu pequeno príncipe pegou catapora. Nos primeiros dias ele sentiu um enorme desconforto e ficou muito amuado. Chorava a toa, não queria comer e não conseguia dormir. No entanto quando cheguei na casa da minha mãe para buscá-lo ele abriu um largo sorriso e me disse que me amava. As crianças são assim, elas são capazes de sorrir mesmo na dor. Elas são capazes de viver cada momento no seu momento. Acho que esse é o segredo para ser feliz.
Bom, todo esse papo começou porque resolvi contar pra uma jovem sonhadora de vinte e dois anos que me separei, que me pus a escrever num blog, e que futuramente pretendo publicar um livro. Fui afrontada com uma pergunta que me fez pensar. Esta jovem sonhadora, com a inocência de uma criança, perguntou-me qual o objetivo de escrever um livro.
Lembrei-me de uma pequena história de Cecília Meireles, onde o diabo encontra uma criança que faz com seu dedo um buraco no chão, e quando a interroga sobre seu objetivo, a criança simplesmente lhe responde que não há objetivo, que somente está fazendo um buraco no chão com o dedo.
Acredito que seja esse o meu objetivo: apenas escrever um livro e publicá-lo. Às vezes não precisamos de um objetivo pra começarmos algo. Precisamos começar, e depois se houverem frutos, que sejam colhidos no momento próprio e oportuno. Se não houver frutos, pelos menos houve a tentativa de formá-los.
Não é incomum a não ação, quando não temos certeza dos resultados advindos da ação. No entanto, se formos racionalizar sempre, não teremos tempo de agir. Há momentos em que devemos nos despir da razão e simplesmente ouvir a voz do coração. Entregar-se ao inesperado pode ser um bom exercício.
“Hoje o meu coração mudou
Já não sei por que vim, quem sou
Mas o que sou capaz
E o resto tanto faz.
Foi só eu descansar
Junto ao pé de uma árvore
Que me acolheu
E depois me ocorreu.
Vi que a vida que vivia em mim
Agora vive aqui nesse lugar
Em volta das sombras
Essa ilha é a reunião das infinitas direções
Que o vento traz com as ondas.
E é quando me vejo a garimpar
As pedras, a montanha, o seu olhar
Rest la maloya, rest la maloya
Rest la maloya, rest la maloya
Rest là meme
Essa menina, essa menina
Essa menina, essa menina vem me dizer.
Apesar de saber
Que nem tudo que eu quis
Eu pude conhecer
Nem deu pra mais prazer
Se cheguei até aqui
Bem no topo do vulcão
Não posso mais descer
Mas tem como escorrer.
Porque a natureza do amor
Está contida na beleza
E na surpresa das manhãs
Dias que parecem tão iguais
Mas de repente vem
Sinais de uma nova magia
Depois desse encontro singular
O mato, o rum, o vinho, o mel e o mar
Essa menina, essa menina
Essa menina, essa menina vem me dizer.
Rest la maloya, Rest la maloya,

Rest la maloya, Rest la maloya,
Rest là-même

Essa mania, essa mania, essa mania

Essa mania de viver

Essa mania, essa mania, essa mania

Essa mania de viver

Rest la maloya, Rest la maloya,

Rest la maloya, Rest la maloya,
Rest là-même

Rest la maloya, Rest la maloya,

Rest la maloya, Rest la maloya,
Rest là-même.”

(Essa mania – Mart’Nália)

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Conversas Sobre o Amor

Um amigo me disse esta semana que não acredita nesse amor idealizado que as pessoas pregam. Para ele somos capazes de amar muitas vezes ao longo da vida. Completei dizendo que, não apenas somos capazes de amar inúmeras vezes, como também de inúmeras formas, mais a coisa mais difícil do mundo é amar inúmeras vezes e de diferentes maneiras uma única pessoa.

Assim como ele, não sou capaz de acreditar num amor idealizado. No que chamo de amor romântico. Ele nos encarcera, nos deixa sempre insatisfeito. Quando vemos uma linda história de amor, pensamos no porque de não termos uma história igual. Olhamos para o objeto de nosso desejo – o amor, e o vemos transparecer no primeiro ser que nos apresenta uma visão otimizada de amor.

As músicas cantam o amor puro, o amor intenso, o amor irreal. A saudade de um amor perdido, o sofrimento de um coração partido. E nos deixamos levar por essa onda de nostalgia e melancolia e pensamos como desejamos sentir tal emoção. Todavia deixamos de ver que, assim como a música e os filmes têm duração certa, assim também são os momentos de amor.

Vivemos várias histórias de um lindo amor durante a vida, mas nada é eterno, e se o fosse jamais perceberíamos esses momentos. Li certa vez que se nós vivemos na água, esta seria a última coisa que descobriríamos. Por muito tempo se acreditou que o oxigênio puro era bom, no entanto ao longo da história da medicina descobriu-se que, na verdade a pureza do oxigênio danifica as células cerebrais.

Daniel Schreder acreditava que era capaz de resolver todos os problemas ortopédicos com seus equipamentos. Mas no fim descobriu-se que a privação de movimentos, mesmo que esses sejam posturas incorretas, são necessários para o bom desenvolvimento dos ossos.

Esses são simplórios exemplos, trazidos de uma forma leiga e pouco detalhada, mas como pessoas ligadas a razão erram, também nó podemos errar. E esses exemplos são metáforas que servem pra nos mostrar que vivenciamos momentos de puro amor ao longo de nossas vidas, eles só não têm como ser eternos, mas existem. A perfeição apesar de ser uma meta de todos, não existe. Nada é perfeito. Nada é eterno. Nunca é nunca. O equilíbrio não existe. O caos não impera sozinho. Somos seres dicotômicos.

O que esquecemos muitas vezes é que o amor depende de duas pessoas, e que uma delas pode não estar querendo o mesmo que a outra. Quando digo que nada é perfeito e que equilíbrio não existe, estou longe de dizer que devemos beijar o sapo durante toda a vida e esquecer o fato de que ele nunca será um príncipe. Apenas que não devemos deixar de viver momentos bons e gostosos por conta de uma busca impossível.

Talvez pense que eu sou racional demais e talvez estejam certos. Mas entregar-se a tudo com força e sem medo é algo difícil de fazer quando não usamos a razão. Em nossas vidas devemos sempre pesar os benefícios e malefícios de nossos atos. Caso contrário viveremos sob o signo do medo, nos aprisionando em algemas fechadas por nós mesmos, engolindo suas chaves e nos impedindo de valer todas as cores da vida.

Amar quem nos ama é muito difícil. Algumas pessoas conseguem encontrar sua “alma gêmea” enquanto outras parecem ser destinadas à eterna insatisfação no amor. Adorei o filme “Vick, Cristina e Barcelona”, mas acredito que existam muitos outros tipos de pessoas além da eterna sonhadora e da eterna insatisfeita, embora esse sejam os papeis mais comum de acharmos.

Os cientistas, os jornalista e os aproveitadores sempre publicam algo sobre como podemos ser felizes, amados, ricos. Sempre com suas fórmulas mágicas, suas receitas de bolo. Mas acredito que os seres humanos são diversos demais, complexos demais e que nunca seremos capazes de encontrar um receita prêt-à-porter para a felicidade. Soluções mágicas não existem. Mas sempre temos bons momentos para recordar, boas histórias pra contar e pessoas ao redor pra amar.

Vamos olhar para o sol, seu nascer e seu poente, admirar as estrelas, olhar pras crianças na rua. Já perceberam como as crianças são capazes de viver o momento como se nada mais existisse. Talvez devamos olhar mais as crianças e aprender com elas o segredo da felicidade. Vi um documentário na Record onde uma menina muito pobre ficava feliz apenas de receber um biscoito recheado, coisa que não via com freqüência. Ela não estava preocupada se teria a oportunidade de comer novamente em outro momento aquele biscoito, ela só estava feliz de comê-lo naquele momento e compartilhá-lo com seus irmãos.

A alegria não é eterna, mas se nos permitirmos ela pode ser constante.

TEMPOS FUGIT

O sol, a praia a companhia perfeita

O mar batendo na rocha eterna

As cores, os sons, os amores

Poesia, poema, tema

Eu e você, nós dois

Perdido no espaço

Perdidos no laço

Perdidos no tempo

Perdidos de nós mesmos.

A rua, o céu como testemunha

De um lindo dia de sol

De um momento perfeito

Sublime tentativa de um eleito

Conversas sinceras

Conversas verdadeiras

Um sussurro, um silêncio oculto

O mudo encanto da Terra.

Os olhos perfeitos

Olhares suspeitos

A boca saudosa

O corpo refeito

A natureza vaidosa

Olhava rancorosa

Por tanta admiração

Olhos nos olhos

Boca na boca

Sonho perfeito

De um dia fugido

Um dia partido

Entre a alegria

E a culpa.

A culpa nos puxa

Nos impede de ser

Plenamente felizes

Momento único

Momento sublime

Momento de felicidade

Momento eterno

Momento etéreo

Nosso momento.

(Edilene Almeida – novembro 2010)

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Segundo Turno Eleições 2010

Hoje uma mulher entrou pra história do nosso país ao se tornar à primeira mulher eleita presidente. Assim como muitos países, nós agora temos uma mulher como representante da nação. O cerne da discussão em todos os lugares desde a escolha dessa mulher para a candidatura girou em torno da capacidade técnica para o cargo, uma vez que, embora estivesse à frente de importantes pastas do governo, ela nunca exercera um cargo de tamanha importância.

Se pararmos pra olhar a história de muitos de nossos presidentes, veremos que a experiência nunca foi um fator de grande importância num primeiro turno. Jango, embora fosse um ótimo técnico, possuía bem pouca capacidade de diplomacia. Nosso atual presidente também não tinha exercido nenhum cargo eletivo até 2002. Aprendeu a duras penas que para ser um bom presidente ele teria que ceder para algumas classes e, assim aprendeu que para ganhar era necessário perder algumas vezes.

Tomar decisões é algo muito difícil, ainda mais quando se tem nas mãos a vida de milhares de pessoas. Quando o destino de uma nação depende de você. Todavia ao contrário do que a maioria das pessoas pensam, em nossa nação o presidente não decide sozinho. Temos um Congresso e um Senado que auxiliam na tomada das decisões. E também o povo, que manifesta sua vontade não apenas na escolha de seus representantes, mas também, através de referendos e plebiscitos e iniciativa popular.

Assim, o destino da nação não fica entregue nas mãos de apenas uma pessoa, mas de todos. Acredito que um dos maiores problemas de nosso país seja a educação. Sem ela as pessoas não são capazes de decidir o que é melhor nem para si, tampouco para a nação. Longe da noção de política que aprendemos no dia a dia, a política é feita de decisões que visam o interesse coletivo. Segundo o dicionário Michaelis (2008) Política é: 1. A arte ou ciência de governar. 2. Aplicação dessa arte nos negócios internos (política interna) ou nos negócios externos (política externa). 3. Conjunto dos princípios ou opiniões políticas. 4. Maneira de agir ou tratar com habilidade.

A nossa próxima presidente tem muitos desafios, dentre eles o de substituir um presidente que foi, senão sempre eloqüente, foi um dos presidentes mais populares dentro e fora do nosso país. E assim como diz o dicionário, deverá agir ou tratar com habilidades as questões mais delicadas referentes à política externa e interna. Ela deverá dar continuidade aos projetos de infraestrutura no país, aos programas de melhoria da saúde pública, e também ao desenvolvimento tecnológico e educacional. Afinal sem educação todo o resto é balela.

A educação e a saúde precisam ser olhadas com um carinho todo especial. Sem saúde não temos nada. Nem todo o dinheiro do mundo pode comprar a saúde. Sem educação não temos bons profissionais e nem cidadãos, temos apenas burros de carga. As obras de infraestrutura, em especial referentes ao saneamento básico, são primordiais para que haja uma melhoria na saúde pública e na educação, uma vez que sem saúde ninguém é capaz de aprender.

Vejo esses três, como fatores preponderantes na organização de planos estratégicos de governo, mas à longo prazo deverão se analisados outros fatores tão importantes quanto. Não se pode fazer política de curto prazo, precisamos de curto, médio e longo prazo. Soluções nunca são definitivas, mas precisam ser pensadas em todo o tempo, antevendo o que virá, para que não sejamos apenas bombeiros apagando incêndios.

Nosso país precisa mais do que nunca de um governante que não olhe apenas os números, mas que olhe a necessidade de cada cidadão, como sendo a necessidade de todo o país. Porque quando temos uma célula doente, todo o corpo sente os efeitos do desequilíbrio.

domingo, 31 de outubro de 2010

Poesia do Arrependimento

O vento não sopra hoje

O vento esbraveja sua fúria

O vento levanta meu vestido

O vento me cobre toda.

Sinto minha perna bamba

Sinto uma aflição no peito

Sinto uma coisa estranha

Sinto não sentir muito.

Vejo o belo sol se escondendo

Vejo muitas nuvens no céu

Vejo a chuva chegando

Vejo caindo do céu.

Antecipo minha dor

Antecipo meu sofrimento

Antecipo a luta interna

Antecipo meu tormento.

Como pode alguém viver?

Como pode alguém amar?

Como pode alguém desejar?

Como pode assim se entregar?

Chove

Chove

Chove

Chove.

A água banha tudo

A água limpa o mundo

A água aprisiona o calor

A água molha meu corpo.

Queria o sono dos justos

Queria a serenidade do outono

Queria a lucidez de um velho sábio

Queria a simplicidade de uma pequena flor.

Espero não ter tempo

Espero não ser chata

Espero não querer mais nada

Espero não esperar mais.

Desejo ser mais e melhor

Desejo ser mais paciente

Desejo falar menos

Desejo ouvir mais.

Princípio, meio, fim

Atos, re-atos, recatos

Mania, companhia, revelia

Espera, desejo, gracejo.

Não quero mais viver

Não quero mais sofrer

Não quero mais correr

Não quero mais querer.

O fim nem sempre é o fim.

O fim pode ser um começo

O fim pode ser o recomeço

O fim é só um fim.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Minha Oração

Às vezes, acreditamos que nada mais pode acontecer. Nos entregamos te tal maneira ao impossível que não vemos que o precipício é fundo e escuro. Desejamos acreditar em algo com uma força quase sobre humana. E nos deparamos com o pior de nós mesmos. Vamos de encontro aos nossos piores defeitos.

Todas as nossas atitudes geram conseqüências, que embora não sejam sempre ruins, podem significar uma mudança inesperada no transcorrer dos nossos caminhos. Fazendo com que nos prostremos diante do imprevisto como uma criança pega fazendo travessura. Somos confrontados com nossos piores medos e angústias, e nos percebemos fracos e solitários.

Eu não sei se a vida poderia ser mais fácil. E é incrível como ela parece fácil para alguns. Eu adoraria ser como aquelas pessoas que diante de uma tragédia sempre tem a complacência de olhar o que é necessário e simplesmente se entregar a fazer. São pessoas inabaláveis. Pessoas feitas de um escudo forte e concreto.

Eu invejo as pessoas que diante de uma decisão difícil, simplesmente olham as opções e, quase sem pensar, respondem o que tem que ser respondido, de forma tão simples e natural que parecem ter sido criadas para fazer escolhas.

Por um breve momento da minha vida eu acreditei que era capaz de responder as coisas mais simples sobre a vida. Acreditei ser maior do que realmente sou. Acreditei ser capaz de ajudar quem me cercava, dando-lhes conforto e esperança.

Mas hoje eu me peguei sendo frágil e insegura. Sendo tola e imatura. E chorei libertando a criança que existe em mim e me forçando a entender minha humanidade.

Eu me enganei. Deixei-me iludir por mim mesma. Pela áurea de sabedoria que jurava me cercar. E meu tombo foi grande. Perdi coisas antigas que julgava serem especiais e verdadeiras. Perdi coisas novas que julgava serem reais.

Eu invejo as pessoas doces, que são capazes de amansar o mais duro coração. Aquelas pessoas doces e meigas que só de olhar sentimos uma admiração quase divina. Adoraria ser como essas pessoas. Mas eu não sou.

Tenho que viver com a dor de sempre me entregar de forma completa e irrestrita a tudo que vier. De sentir profundamente todas as dores do mundo. De carregar nos ombros o estigma que tenho que carregar. De ser uma pessoa inconstante e insatisfeita. Sempre em busca de algo mais. De uma inquietude que beira a loucura.

Sou como a água que não pode caber entre os dedos da mão. Sou como um rio caudaloso que corre enlouquecidamente em busca de uma foz. E tenho que entender que se Deus me fez assim, ele tem um propósito muito maior com isso.

Mas como entender o que não desejamos?

Como viver sabendo que o mundo nunca vai te satisfazer?

Como viver sabendo que a inquietude interior que sustentamos nos levará ao sofrimento?

Se a vida é sofrimento, então como posso desejar tanto o não sofrer?

Acredito que haja ainda mais perguntas sem respostas que respostas às perguntas do mundo, mas vou buscá-las. Vou procurar saber mais e tentar viver da melhor forma possível. Vou tentar renascer como a Fênix tantas vezes quanto forem necessárias. E cada vez que renascer, eu ressurgirei ainda mais forte do que antes, e mais capaz.

Meu Deus me ajuda a ser mais e melhor a cada dia. Ajuda-me a viver conforme o exemplo de teu Filho. Com humildade e simplicidade. Ajuda-me Deus a ser uma pessoa mais atenciosa ao meu próximo e mais abdicada. Ajuda-me a viver de maneira simples. Porque assim foi teu Filho aqui. Ele não teve palácios, ou mansões, ou mesmo uma casa. Ele viveu desapegado de tudo que era material, não se esquecendo jamais da necessidade dos que o cercavam. Teve humildade para entender que as pessoas tinham fome, dando-as de comer. Entendeu que as pessoas necessitavam de perdão, e deu-lhes o perdão. Necessitavam de cura, e os curou. A cada necessidade, teu Filho atendia com a humildade e o carinho que só podiam prover de Ti.

Dá-me, Senhor, um coração igual ao Teu. Coração disposto a obedecer ao seu querer. Faz de mim um cálice, para a tua adoração. E guia-me pelos Teus caminhos, para o teu louvor. Pai a Ti entrego a minha vida, como em tantas outras vezes. Entrego-as para que a cures e seja engrandecido desta maneira. Amém.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Encontro com Morpheus

Já passavam das duas da madrugada quando decidi que enfrentaria Morpheus. Tomaria satisfações com ele por sua negligência comigo nos últimos dias. Deixei o arquivo baixando e fui tomar banho. A água quente me relaxou, mas num dado momento passou a ser o contrário, a água me envolvia de tal maneira que me excitava. O calor que envolvia meu corpo como um tecido macio me levava ao delírio. Senti que Eros estava ali. Olhei atentamente pra ele e perguntei se já não estava satisfeito com a atenção que venho lhe dedicando. Ele riu, disse-me sempre querer mais.

Voltei pra sala e o download não havia terminado. Senti um leve sopro nos olhos. Olhei e não vi ninguém. Algo era sussurrado no meu ouvido, mas era incompreensível. Finalmente havia terminado e o arquivo já estava concluído. Eram três horas. Olhei meus meninos dormindo e cobri um que cismara de dormir só de cueca. A noite estava levemente fria.

Ao deitar-me senti um perfume diferente e inexplicável. Não sabia dizer que perfume era aquele. Mas era bom. Estava preparada pra brigar com Morpheus. Não era justo sua negligencia para comigo. Não tardou pra ele aparecer. E quando o vi, toda a raiva foi dissipada. Sua beleza era estonteante. Não me lembrava dele assim. Quiçá, porque quase sempre confundia sua imagem com a imagem do personagem de Matrix.

Quase sorri, mas lembrei de seu desleixo comigo. Ele me olhou bem dentro dos olhos. Foi se aproximando e disse com uma voz grave, terna e firme:

- Não fui eu quem te abandonei. Foi você que não me deu atenção. Tenho vindo todas as noites ao seu encontro, mas você está tão envolvida com os outros deuses, que sequer me nota.

- Isso não é verdade. Retruquei.

- Não se engane. Quando foi a última vez que se deitou e simplesmente se entregou em meus braços? Não deitava com Eros e levantava com ele? Por acaso não estava demasiadamente preocupada com Sofia, Philos e outros deuses e semideuses?

- Você está querendo me ver mais irritada. Porque não me toma em seus braços e me leva? Perguntei.

Foi quando ele se aproximou, tocou meu rosto com sua mão delicadamente, aproximando seu pescoço do meu nariz.

- Sente esse cheiro? Tive que me perfumar com essências de lavanda e camomila com um leve toque de canela. Sabe para que? Para estar mais atraente que os outros pra você. Além disso, tive que me vestir com meu melhor traje, brigar com quem lhe desejava atenção e pedir favores a um amigo. Esse amigo fez seus ombros pesarem e seu pescoço doer, obrigando-lhe a deitar-se.

Fiquei muda, o que dizer? Aos poucos aquele perfume foi me inebriando e fui perdendo os sentidos. Morpheus me tomou em seus braços fortes. Era incrível como ele estava tentador. Toquei em seu rosto, sentindo sua pele agradável. Nem mesmo a mais pura seda ou o veludo possuía uma textura mais delicada e prazerosa.

- Parece que nunca te vi antes. Onde você esteve esse tempo todo? Por que não me recordo de você ser tão atraente assim? Perguntei um pouco aflita.

- Você não se lembra de mim? Perguntou com a face terna e doce como de um anjo. Nunca te deixei. Mas há horas em que preciso me afastar de você e permitir que outros deuses te adorem e saboreiem da sua companhia. Não sou egoísta. Nem tenho ciúmes. Inclusive por diversas noites permiti que junto comigo outros compartilhassem da sua cia.

- Então por que não me lembro de você?

- Porque você acabou de descobrir sua liberdade. Você conheceu novos sabores e novas sensações e desejou que isso fosse eterno. Sua ânsia por abraçar o mundo com as pernas não permitia que de ti me aproximasse.

Nesse momento corei. Ele me pegou com seus braços fortes. Levou-me de encontro ao seu peito. Pude sentir sua respiração profunda e pausada, e seu coração batia de maneira regular. Pensei que os deuses não possuíssem coração.

- Isso é mais um dos meus artifícios para te seduzir. Essa ilusão lhe propicia conforto e torna mais fácil minha chegada até você. Disse-me ele com sua voz de veludo.

- Não sabia que era capaz de ler pensamentos. Perguntei.

- Não sou. Mas tenho que adivinhar seus desejos e estou a tanto tempo com você que conheço cada expressão da sua face. Cada palavra expressa por seu corpo.

Senti novamente meu rosto corar. Será que já estava sonhando?

- Não. Ainda precisa relaxar mais. Como você gosta de dizer, tem que se entregar por completo.

Como ele podia me conhecer tão bem assim? Embora soubesse que devia sentir um pouco de medo, afinal eu era transparente como a água para alguém. Eu não sentia medo. Cada vez que ele me apertava contra seu peito, eu sentia meu corpo inteiro estremecer e relaxar. Olhei atentamente para o seu rosto. Jamais vira no mundo homem mais belo.

Suas feições eram firmes e delineadas. Havia uma perfeição em seus traços que eram humanamente impossíveis. Sua boca era carnuda e delicada, e não encontro palavras para descrevê-la. Seus olhos eram firmes e penetrantes como uma lança afiada, e ao mesmo tempo meigos e receptivos como os olhos de um bebê.

Eu estava totalmente entregue aquele deus cuja beleza me parecia maior que a de Apolo. Cuja sensualidade ultrapassava Eros. Cujo falar era mais belo do que o canto da mais perfeita Ninfa. Eu era dele. Totalmente dele. Já não passava nenhum pensamento pela minha cabeça. Pela primeira vez em muito tempo, eu era só sensação. E desta vez não era por conta da loucura de Eros, mas pelos encantos de Morpheus.

Num determinado momento ainda tentei lutar. Mas meu amigo, amante, e agora amado me levou novamente para seu mundo, me dizendo que entendia minha relutância. Afinal, não fazia muito tempo, ele estava tão obcecado por mim, que não conseguia deixar de lançar seus encantos. E ele sabia que seu tempo comigo estava reservado a pequenas horas, depois que o sol se punha.

Eu me entreguei de tal maneira, que pela primeira vez em muitos meses, não percebi o raiar do dia. Meu despertador me acordou, coisa que não acontecia.

- Não se vá. Disse-me ele sôfrego. Faz tanto tempo que não ficamos assim tão próximos e entregues...

Interrompi.

- Eu adoraria ficar mais um pouco, mas tenho obrigações em meu mundo. Eu não posso ficar. Não agora, mas eu volto logo. E haverá um dia que minha entrega a você será eterna. Respondi angustiada por não ficar mais um pouquinho.

- Senti tanto sua falta. E nesse dia que você falou, não serei eu quem terá você para sempre. Será outro deus que virá te buscar. E eu nunca mais poderei estar com você. Deixe-me aproveitá-la mais.

- Juro que volto. Respondi com lagrimas nos olhos. Juro que volto.

Levantei da cama, deixando meu amante desaparecer como que por encanto. Tão logo ele chegou, partiu. Senti uma tristeza profunda por não estar mais com ele. Mas trazia no peito a certeza de que voltaria a vê-lo, e seria em breve. Depois de redescobrir alguns prazeres perdidos, ele me mostrara algo que eu não me lembrava que era tão bom. Morpheus me mostrou o prazer de descansar. O prazer de dormir.

É incrível como Cronos cisma em nos roubar. Minha tentativa de resistência com Morpheus não durou mais que algumas frações de segundos, e minha viagem pro seu mundo durou menos de quatro horas. Não me sinto satisfeita. Mas pelo menos agora eu redescobri um prazer esquecido, negligenciado, relegado.