sábado, 10 de julho de 2010

Carona Legal

No início do mês de junho li uma notícia muito interessante, dizia que o reitor da UFRJ propôs um projeto para incentivar a carona solidária, mecanismo para diminuir o número de carros no estacionamento da universidade. O mais interessante nessa notícia não era a novidade do projeto, uma vez que muitas universidades e universitários já fazem a muitos anos o que o reitor propôs, mas a necessidade de se promover uma campanha para que isso se torne uma constante na UFRJ.

Como já mencionei, do terceiro ano do primeiro grau (antiga 2ª série) até a universidade, sempre estudei em escola pública. Nos tempos de faculdade peguei carona com várias pessoas, alguns meninos pouco prudentes na direção, outras meninas um pouco desbocadas no trânsito e outras muito calmas e prudentes. Da mesma maneira os professores e professoras, às vezes com os carros abarrotados de alunos e alunas.

Estes momentos de carona eram mais do que interessantes, neles conversávamos sobre as mais diferentes coisas, da última aula até a dinâmica da vida moderna, passando pelas más condições das ruas e a falta de educação de alguns condutores.

A recordação que mais me rende saudades é a de uma de minhas colegas, pessoa séria e compenetrada que quando ria fazia também sorrir. Possuía um humor muito distinto e suas tiradas muito se assemelham as dos meus filhos, dando-me a entender a influencia desta magnífica figura na minha vida.

Fátima era um exemplo de dedicação, sempre atenciosa nas aulas e muito caprichosa com seu material, abandonara a carreira de administradora para fazer pedagogia e lecionar. Profunda conhecedora e fã de carteirinha de Demerval Saviani, as caronas dela eram, sem sombra de dúvida, as mais divertidas. Eu e o Pedro éramos fixos, e havia os outros agregados: Fernando Felipe e um baixinho muito divertido cujo nome eu esqueci.

Nossas aventuras começavam na aula de uma professora que mais parecia Hitler, ela era e acredito que ainda é uma das professoras mais tradicionais e severas da Escola de Educação. As aulas eram na quinta nos dois últimos horários, e não era incomum na saída, os meninos ficarem interrogando a professora sobre alguns pontos da teoria marxista acerca das relações de trabalho, de maneira que saíamos muitas vezes da faculdade as 11:30 ou 12 h da noite.

Certa vez, o Pedro pegou um texto emprestado com a Fátima e o devolveu cheio de anotações e destaques, no que ela respondeu que havia esperado por toda a vida por alguém que demarcasse o texto para dizer-lhe o que era mais importante. Todos rimos do sarcasmo dela. A viagem com essa galera era sempre muito divertida. E acredito que essas relações são de suma importância para o desenvolvimento intelectual. Quase todos nós trabalhávamos durante o dia e depois de horas de indagações filosóficas, nada mais justo que dar algumas boas risadas entre amigos.

"Sempre precisei de um pouco de atenção
Acho que não sei quem sou
Só sei do que não gosto... E nesses dias tão estranhos
Fica a poeira se escondendo pelos cantos
Esse é o nosso mundo
O que é demais nunca é o bastante
E a primeira vez é sempre a última chance
Ninguém vê onde chegamos
Os assassinos estão livres
Nós não estamos...
Vamos sair!
Mas não temos mais dinheiro
Os meus amigos todos
Estão procurando emprego... Voltamos a viver
Como há dez anos atrás
E a cada hora que passa
Envelhecemos dez semanas...
Vamos lá, tudo bem!
Eu só quero me divertir
Esquecer dessa noite
Ter um lugar legal prá ir... Já entregamos o alvo e a artilharia
Comparamos nossas vidas
E esperamos que um dia nossas vidas
Possam se encontrar...
Quando me vi tendo de viver
Comigo apenas e com o mundo
Você me veio como um sonho bom
E me assustei
Não sou perfeito... Eu não esqueço
A riqueza que nós temos
Ninguém consegue perceber
E de pensar nisso tudo
Eu, homem feito
Tive medo e não consegui dormir...
Vamos sair!
Mas estamos sem dinheiro
Os meus amigos todos
Estão, procurando emprego... Voltamos a viver
Como a dez anos atrás
E a cada hora que passa
Envelhecemos dez semanas...
Vamos lá, tudo bem
Eu só quero me divertir
Esquecer dessa noite
Ter um lugar legal prá ir... Já entregamos o alvo e a artilharia
Comparamos nossas vidas
E mesmo assim
Não tenho pena de ninguém..."
(Renato Russo)