quinta-feira, 11 de junho de 2020

Opinião sobre o filme 365 DNI


                O filme começa com a cena de uma negociação entre dois homens jovens e um homem maduro que nos parece ser um mafioso, pois está cercado de seguranças. Após encerrar a negociação, esse homem maduro vai ao encontro de um homem mais jovem, que descobrimos ser seu filho, e que observa com um binóculo uma mulher que passeia pelos arredores do prédio que estão. 


Há uma conversa entre os dois, onde o pai alerta seu filho sobre suas responsabilidades para com os negócios da família, uma vez que herdará tudo e que para isso, precisaria deixar de perder tempo com conquistas amorosas. Nesse momento, o pai é alvejado e uma das balas perpassa seu corpo acertando o filho. O mais velho morre e o mais novo é socorrido por seus seguranças.


                Há uma passagem de tempo de 5 anos e vemos duas salas de reuniões. Uma com o jovem que fora alvejado, e que assume o lugar de comando, antes exercido por seu pai. E na outra sala uma mulher. As cenas são intercaladas e percebemos que mostram a força de ambos para negociar. Na sequência são mostrados os dois num carro, ambos olham o celular. Ele vê uma mensagem de uma mulher chamada Anna. Ela ativa a câmera frontal do celular, abre os botões da blusa que cobre seu corpo até o pescoço e admira seus seios. Ela se sente poderosa e sorri diante dessa constatação.

                Quero chamar atenção para o fato de que os dois personagens, tanto o feminino, quanto o masculino, usarem roupas pretas. Não pela roupa em si, mas pelo significado que carregam para ambos. Enquanto ele passa a ideia de alguém sombrio e frio. A roupa preta dela nos permite pensar em outras possibilidades. A primeira imagem que vemos dela é de uma mulher com seus cabelos presos, vestida com roupas pretas, compostas por calça comprida e  blusa social de manga longa e fechada até o pescoço. Essa opção de vestimenta pode insinuar que ela não buscava ser sexy, assumindo quase uma postura assexual no trabalho. Essa imagem seria necessária para que transmitir  uma postura de seriedade no trabalho, dissociando sua sexualidade e permitindo ser vista para além de sua beleza. Isso nos permite, inclusive, observar que no mundo dos negócios, mulheres tendem a ser mais cobradas, quando almejam alcançar postos de comando. É necessário não apenas ser competente, mas ser superior a qualquer homem na mesma posição.  E naquela sala de reunião isso é mostrado. Ela é uma mulher forte, decidida e competente.

                Depois as cenas intermitentes deixam de ser mostradas. Ela chega em casa e seu namorado está vendo um filme, sentado no sofá da sala com fones e um notebook. Ela o abraça, beija e começa um processo de sedução que é interrompido por ele com uma série de desculpas, inclusive a de que ela deveria descansar por sua condição de saúde – é cardíaca. Nesse momento, a impressão de assexualidade mostrada pela opção de roupa se desfaz. Em casa ela tenta ser atendida em seus desejos pelo homem com quem escolheu viver, mas só consegue obter prazer com o uso de brinquedos sexuais. Percebemos ali que o relacionamento dela não a satisfaz. A felicidade que o trabalho trouxera, não se estende a sua vida pessoal.

                Enquanto isso, Massimo está em um avião e descobre que uma de suas cargas foi roubada. Ele não resolve a questão. Longe disso, vai até o local onde estivera descansando, fecha as cortinas e fala algo para bela aeromoça que arruma o local. Não sabemos o que ele disse, mas com violência ele a faz sentar, abre a calça para que ela faça sexo oral nele. Essa foi uma cena que me deixou muito desconfortável. Tive a impressão de que ocorreu um estupro e não um ato consentido,uma vez que ele força a cabeça da moça durante todo o ato até gozar. No pós gozo a vemos limpar a boca e dar um meio sorriso, saindo para um outro ambiente do avião. Ao fechar a porta, ela respira e solta um sorriso. Não sabemos qual teria sido o acordo, mas há um nítido constrangimento quando ela passa pelos dois homens que estão com ele no avião. E após uma breve pausa em que ela parece pensar sobre o que foi acordado, ela sorri.

                Além de parecer forçado, a cena nos mostra que Massimo não se importa com o desejo da mulher. É como se, por sua posição de poder, ele tivesse que ser servido e ter suas necessidades priorizadas, independente da satisfação alheia. Na verdade, a satisfação alheia deve ser apenas a oportunidade de servi-lo. A personalidade sombria de Massimo que é sugerida na cena da sala de reuniões do início do filme, e ratificada de forma muito clara agora - trata-se de um homem sombrio e até mesmo perverso.

                A cena seguinte mostra a chegada da mulher, que agora sabemos se chamar Laura, com seu namorado e um casal de amigos num hotel próximo a praia. Descobrimos que a viagem é feita para comemorar o 29º aniversário dela. Mas longe de ser uma viagem romântica, passa a ser um pesadelo. Se o a cena da chegada dela em casa nos mostrou um namorado distante, a confirmação se dá no desenrolar da estadia no hotel. Se no trabalho, ela é poderosa, na relacionamento é subjugada e inferiorizada. A conversa de Laura com a amiga na beira da piscina, é o relato de uma mulher submetida a um relacionamento abusivo. E após uma calorosa briga entre ela e seu namorado, esta parte sem rumo. 
Após a briga, ocorre o primeiro encontro dela com Massimo que desaparece subitamente, tal como um fantasma. A noite chega e a vemos andando pelas ruas sozinha. As luzes de um carro acendem e um homem aparece atrás dela. A próxima cena é dela acordando num quarto estranho. Ela se examina e não parece ter sofrido nenhum tipo de agressão. Alguém abre a porta do quarto e ela desce, procurando a saída. Neste momento ela encontra Massimo que conta o motivo dela estar ali. Ela observa um quadro com sua imagem na sala da casa. Ele diz que ela ficará presa por 365 dias até
 se apaixonar por ele e diz que não tocará nela sem seu consentimento.
                Laura tenta fugir e é jogada numa poltrona. Massimo se coloca sobre ela, apalpando seu corpo. Ele diz que não pretende amarrá-la, mas não aceita ser desobedecido. Ela diz que não será assim que se apaixonará por ele. E aqui percebemos que o toque comentado seria forçar ao ato sexual, no entanto, ela é objetificada e tem seu corpo tocado sem permissão. Ela tenta fugir novamente e ele a joga contra uma pilastra, usando sua sensualidade, ela toma a arma dele e ameaça atirar. Os dois homens do avião entram e alertam que ele precisa assinar um contrato com urgência. Ele toma a arma dela e manda levarem-na para o quarto. Ela é novamente trancada.
                A partir daí, ele a leva para fazer compras. Que ao tentar fugir e pedir ajuda para dois policiais, é confrontada com o poder do seu sequestrador. Ele dispensa os guardas e ela percebe sua solidão. Vemos no decorrer do filme as tentativas dela de desafiar Massimo. E depois sua fragilidade diante da agressividade deste. Se antes ela se apresentava quase assexuada, agora ela usa de toda a sua sensualidade num jogo perigoso, onde é alertada a não provocar seu sequestrador. Em um ponto interessante do filme, ele pede que ela o ensine a ser delicado com ela. E isso me fez pensar que, talvez, ele entendesse que não a conquistaria demonstrando seu poder e sua virilidade (o que fica nítido na cena do chuveiro, onde ele questiona o motivo dela olhar para ele). Mas o desenrolar da trama me fez descrer disso.
                Uma das cenas que mostra Massimo amarrando Laura numa cama e dizendo que ela vai ver o que está perdendo ao não ceder a virilidade dele. Nesse momento entra uma mulher com um longo cabelo preso num rabo de cavalo e lingerie de couro. Ele se senta numa espécie de sofá em frente a cama e a mulher faz sexo oral nele. Vemos imagens de Laura incomodada com a situação, enquanto ele olha fixamente pra ela durante o ato. Após alcançar o gozo, o ato não prossegue. A mulher saí pela porta que entrou como se nada tivesse acontecido e ignorando a outra mulher amarrada. Massimo solta Laura e a manda se vestir. Foi a segunda vez que o sexo oral foi usado para dar a impressão de que a maior satisfação feminina é fazer o homem gozar na sua boca. O egoísmo de Massimo não difere em nada do egoísmo do antigo namorado dela.
                Ao conseguir seu laptop e celular de volta, vemos Laura falar com a mãe e a tranquilizar. Ela mente sobre ter conseguido um bom emprego e descobrimos que ela está na Sicília. Há um jogo de força e fragilidade que nos faz ter uma simpatia pela personagem. Mas não entendemos o motivo dela não pedir ajuda. Seria medo de que algo pior acontecesse? Seria a resignação por sua condição de cativa?
                Laura era vítima de um relacionamento abusivo com seu namorado, e isso fica claro na conversa dela com a amiga na piscina do hotel, quando diz que está em último lugar na vida do namorado. E pensamos: como uma mulher poderosa no trabalho que gerencia um hotel, se permite esse tipo de relacionamento que parece não lhe trazer sequer a satisfação sexual? O filme não nos mostra como eles chegaram nesse ponto. E essa lacuna seria o grande diferencial numa produção que, supostamente, seria produzida para agradar o público feminino.
                A reviravolta acontece depois que, numa discussão a bordo de um iate provoca a queda de Laura no mar e seu salvamento por Massimo. E aí está a parte mais inacreditável do filme, ela o retribui por salvá-la, fazendo sexo oral, cedendo aos desejos dele. Só um detalhe: ela não teria sua vida ameaçada se não tivesse sido sequestrada. Confesso que fiquei meio descrente do filme nesse momento. Seguem-se cenas calorosas de sexo.
                Antes da discussão no barco, Massimo está conversando com Mario, o homem que parecia ser o conselheiro de seu pai e agora assumia esse posto. Sabemos que Mario não concorda com o sequestro da moça. E ele diz duas coisas que nos dá pistas sobre o que está por vir: que Massimo deveria se livrar de Laura e do barco (a Laura eu entendi, mas o barco ficou fora de contexto) e reatar com Anna (a moça da ligação no início do filme) por conta do risco de uma guerra entre famílias. Se algumas falas de Massimo me remeteram a 50 tons de cinza, agora eu só conseguia pensar em Romeu e Julieta sem o romantismo de Shaskespeare.
                Depois da olimpíada sexual no iate, Massimo leva Laura para um baile de máscaras e somos apresentados a Anna que faz uma ameaça – vai matar a mulher que lhe roubou o lugar. Após essa ameaça, Massimo decide mandar Laura de volta a Varsóvia. A primeira coisa que ela faz é ver sua melhor amiga, que não é a amiga da viagem. Ao comentar sobre Massimo, ela o descreve como sendo a perfeição – um homem com corpo perfeito e muito dinheiro. E ocorre mais uma decepção com o filme. Longe de romper a visão machista, ele reforça a ideia de que a felicidade e o prazer da mulher estão num corpo esculpido, com um pênis sensacional e muito dinheiro e poder.
                Sabe aquela broxada básica? Então. Esse momento foi a gota d’água pra destruir qualquer tentativa de salvar o filme. Toda a descrição inicial de Laura como uma mulher poderosa nos negócios caí por terra, quando ela descreve Massimo dessa forma. E a coisa piora, quando ela reclama de ser excluída das discussões dele com os outros mafiosos. Oi?!?!?! Como assim?!?!?! Não li os livros, mas deu curiosidade de saber se essa parte é fidedigna e a autora distorce a condição de sequestrada de Laura ou se foi um delírio insano da roteirista. O que sei é que a coisa ficou sem pé e nem cabeça.
                Vi o filme uma única vez. Então não tem como lembrar cada detalhe, mas o que parece ter sido ocultado da história pra propiciar um certo mistério, não teve o efeito esperado. Pelo menos para mim. Por exemplo: Por que Mario diz que ele vai causar uma guerra entre famílias? Anna se coloca como o primeiro amor de Massimo, logo a morte de sua rival seria uma forma de se vingar pelo sonho perdido? Ou será que o casamento dos dois teria um outro viés? Seria apenas uma deixa para um segundo filme? O final pode nos indicar que sim.
                Cinquenta tons de cinza, que parece ter sido a inspiração pra essa obra, inaugura o que ficou conhecido como “pornô para mamães”. O gênero pornô costuma estar associado ao gênero masculino e não possui história, mas foca nas cenas de sexo explícito. O novo gênero é bem diferente dos livros tipo Sabrina que encontramos com facilidade em bancas de jornais. A ideia é trazer à tona fantasias sexuais e romper com a ideia de que mulheres não gostam de sexo. Mas as duas autoras incorrem no mesmo padrão machista que ratifica que mulheres só fazem sexo pra prenderem homens.
                Essa inconsistência do gênero pode até atender algumas mulheres que não percebem se tratar de uma nova roupagem para algo antigo. A própria construção das personagens femininas é fraca. Não li o livro Cinquenta tons de cinza. Vi os dois primeiros filmes e não gostei. Os atores de 50 tons não me convenceram nos papéis. As tramas paralelas me pareceram fantasiosas demais para o que o gênero parece propor. Já o filme 365 DNI traz atores com uma química melhor e uma fotografia que me prendeu a atenção. Para além dos erros do roteiro, a atuação dos atores foi bem mais convincente e, me apaixonei pelos cenários. A casa com seu estilo gótico e a iluminação indireta, nos traz o clima de sombrio perfeito para o desenrolar de um mistério. Pena que o roteiro não colabora com isso. Ou seja, os recursos imagéticos típicos de filmes não são sustentados pela trama cheia de falhas.
                Se disser que senti que foram quase 2 horas perdidas, será mentira. Mas longe de trazer a revolução para o gênero “pornô para mamães”, foi uma repaginada do gênero romântico com pitadas de sexo idealizado. Se me decepcionei? Precisaria ter tido alguma expectativa pra isso e não tinha. Mas se querem a indicação de um filme quente para o dia 12, sugiro Pecado Original com a maravilhosa Angelina Jolie e o incrível Antônio Bandeiras.

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Essa tal de Melancolia

          Nos últimos 16 anos, no Brasil, cresceram o advento das redes sociais. Há uma reclamação constante de alguns sobre a falsidade do que é mostrado nas redes sociais. Há quem questione o mar de rosas exposto e que, muitas vezes, não condiz com a vida real. E queria pensar um pouco sobre alguns pontos dessas reclamações.
          Em primeiro lugar, nossa sociedade prega que a felicidade é o bem maior. E devemos nos sacrificar em prol da felicidade. Seja ela pessoal ou do outro. Então é comum a ideia de que devemos lutar para conquistar algo que nos deixe felizes. Seja um emprego dos sonhos, o amor de uma pessoa que desejamos, seja qualquer outra coisa que possa trazer algum felizes para sempre. O problema é que o felizes pra sempre não existe. Só que não tem como sermos felizes o tempo todo. E, muitas vezes, é nos momentos de tristeza que nos tornamos mais produtivos.
          A melancolia nos causa dor. Quando temos uma dor no corpo, buscamos formas de parar a dor. Tomamos um analgésico. Quando temos uma dor na "alma", precisamos criar estratégias para nos livrar dessa dor. Algumas vezes, abusamos de remédios e do uso dessas estratégias, gerando compulsões. No entanto, não vamos nos aprofundar nisso. A dor da alma chamamos de melancolia. Ela pode ser eventual ou pode ser constante. Quando se torna constante, indica uma doença ainda mal entendida e mal vista - a depressão.
          Em segundo lugar, não somos ensinados a lidar com nossos sentimentos. Nem os bons e nem os ruins. Eu, por exemplo, tenho uma dificuldade enorme em lidar com elogios, porque se aceitamos, acham que somos metidos. Mas se contestamos, estamos usando de falsa modéstia. Fica difícil entender as regras sociais para cada situação. E se sentimentos bons são confusos, os ruins são execrados de tal forma que sentimos vergonha até em falar seus nomes. O sentimento de ódio, por exemplo, é muito criticado. É como se ele não devesse existir, mas existe e precisamos aprender a lidar com ele também. Talvez se fossemos ensinados a lidar com nossos sentimentos, sejam bons ou ruins, teríamos menos violência e mais empatia.
          Em terceiro lugar, A vida virtual não é diferente da real. Ninguém costuma sair na rua com aquela roupa velha que usa em casa pra fazer faxina ou dormir. Todos se enfeitam de alguma forma pra se mostrar a sociedade. 

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Eros e Afrodite ou a confusão dos amantes

          Na mitologia grega Eros e Afrodite representam o erotismo, a sensualidade e o amor. Tenho pensado muito sobre o motivo de buscarmos esse tipo de conexão com o outro. Uma conexão que não precisa, necessariamente, ser física. Mas precisa, obrigatoriamente, ser recíproca. Ainda que essa reciprocidade não seja o desejado. Precisa haver um elo. E é nessas possibilidades que nossos corpos e mentes se perdem nos desejos. 
          Não entendi? Dirá meu caro leitor. No que eu responderei - contrariando a ideia de Kant de que o exemplo é encarcerador da ideia, darei exemplos. Alguém pode se apaixonar e não ser correspondido com a mesma paixão, mas com uma amizade. O apaixonado nunca terá o gozo do prazer carnal, mas terá alguma forma de carinho de quem nutre o desejo. Desejo é coisa estranha e pode ser transformado em outras coisas. Ou mesmo podemos mudar o foco do desejo. 
          Se a pessoa que é desejada não deseja, sempre há quem deseje. E a oportunidade de sublimação do desejo pode ser revertida pra essa 3a pessoa. Assim, a amizade pode prosseguir e o apaixonado não precisa se frustrar. Terá obtido o desejo, mesmo que com outra pessoa. Não sei até que ponto isso traz a tal sublimação do desejo não correspondido. Mas é aquele velho dito: Se cura um amor com outro amor. - Mas eu diria, na falta de um amor romântico, podemos focar apenas no sexo. 😳
          Não sei dizer se funciona ou não. Apenas estou refletindo. As relações humanas ficam em dois hemisférios - o real e o imaginário - na falta do real, o imaginário pode transcender e saciar a pessoa. Mas será que ocorre a saciação plena do desejo? Talvez sim, talvez não. Mas fico pensando se esse monte de desejos não saciados não acabam se transformando em compulsões. Somos energia. E como energia precisamos de trocas constantes. 
          Na época da faculdade, estudei um pouco de bioenergética. Sobre como podemos trabalhar de outras formas essa energia produzida pelo nosso corpo. E como nos manter saudáveis mental e fisicamente através dessa dissolução de energias acumuladas. Já vi que vc quer saber qual a fórmula mágica! Mas não tem. Muitas vezes, essa energia acumulada se torna frustrações e amarguras. Como seres conscientes, precisamos identificar esses desejos e identificar formas de sublimá-los. De libertar nosso corpo dessa energia acumulada. Alguns encontram a saciação na dança, na corrida, no trabalho... mas devemos tomar cuidado pra não abusarmos. a saciação dos desejos na forma como eles veem é importante também. Apenas quando não for possível, precisamos sublimar. 

Ainda sinto na boca o beijo
O corpo colado junto ao meu
O toque dos dedos deslizando pela minha pele
A sensação de não ser mais apenas eu
Mesmo uma única vez
Ainda lembro do encontro
Aquele conto encantado fruto do desejo
Fruto daquilo que nunca sonhamos
Apenas uma vez
O medo do novo, daquilo que não sabemos
O distante conto de Eros em nossas mentes
A entrega, mesmo que mediada por Baco
A espera que fora tão grande
E no que o mundo parou um instante
Demos vazão ao desejo reinante
Não fora tudo, sobrara um pouco
Um sabor de que faltou algo
Baco sempre atrapalha um pouco
E na onda das incertezas
Essa triste indefinição
O desejo não murcha
Não sublima
Não sucumbe ao ato em si
Ele cresce e reina perene
Naquilo que ainda não existe
Supreendo com sua imagem presente
O corpo ausente parece estar aqui
Eu sinto na ânsia dos sonhos
Que nada será igual
Mas eu quero que seja o desejo
Sem medo, sem receios
Apenas dois corpos em um.

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Despedidas


          Se existe algo que amedronta a maior parte dos seres humanos é a morte. Pois ela significa a impossibilidade de mudança. Se temos medo de mudar, temos ainda mais medo daquilo que é imutável. A mudança nos traz o novo, o inesperado, aquilo que não temos controle. E o ser humano teme tudo aquilo que não pode controlar. Nesse ponto a morte se torna algo sobre o qual não temos controle. E por mais que a medicina tenha evoluído, ainda não conseguiu alterar esse fato - a morte é democrática, ninguém pode fugir dela.

          Mary Shelly escreveu um romance onde tentava lidar com seus sentimentos acerca da morte de sua filha. No livro ela tenta lidar controlar a morte, mas descobre que esse controle não é possível. Podemos conjecturar que a revolta da criatura pode simbolizar a nossa dor. A dor de quem teve os seus sonhos destruídos. A dor de quem não concluiu suas projeções ou desejos. A dor do eterno. Se a vida nos traz diversas possibilidades, a morte nos tira todas elas. Quem morre deixa um legado de sentimentos que nem sempre são bons. Quem fica pode sentir que há uma ponta solta. Algo ainda não terminado.

          O luto é sempre doloroso. E não há regras pra ele. Há um tempo certo para seu início, mas não para o fim. A dor não é constante, mas crônica. Tem vezes que é mais difícil lidar com ela, e tem outros momentos que é mais fácil. Mas não tem fim. Também não existe regras pra lidarmos com o luto. Talvez possamos estabelecer metas. Precisamos aprender a lidar com a perda. Trabalhar o desapego e lembrar que não importa o que não podemos mudar, mas podemos manter vivas as memórias e os bons sentimentos que nutrimos e das relações que vivemos.

          Sei que não fui clara e acredito que há uma música do Renato Russo chamada Ventos no litoral que pode ser melhor explicativa. Na música ele diz: "lembra que o plano era ficarmos bem". Precisamos nos lembrar sempre que o amor e o que foi criado da nossa relação com quem partiu era mais importante do que as projeções de um futuro com essa pessoa. Precisamos lembrar que ninguém é responsável pelas projeções que fazemos. Logo, não podemos despejar toda a nossa energia em quem não tem como recebê-la. Isso vale pra quem morreu e pra pessoas que nos deixam, mas permanecem vivas. Ninguém é responsável pelos nossos desejos ou projeções. E se somos responsáveis pelo que sentimos, precisamos cuidar de nossos sentimentos e pensamentos como cuidamos de nos alimentar ao sentirmos fome.


sábado, 3 de agosto de 2013

Cristãos X Homossexuais (opinião)

Dois filhotes machos brincando.
Existem momentos na vida em que não podemos nos calar. Tenho visto uma guerra acontecendo no Facebook e fora dele tbm. É uma guerra de homossexuais e evangélicos. Li no FB uma crítica muito interessante: Se evangélicos criticam a homossexualidade são preconceituosos, mas se for o Papa está tudo bem.
Quero deixar claro que sou evangélica e heterossexual, mas não concordo com algumas atitudes de ambos os lados. Tenho vários amigos diferentes: candomblecistas, homossexuais, bissexuais, espíritas, católicos, ateus, agnósticos, e por aí vai. Todos eles acham engraçado eu trata-los bem e não recrimina-los por suas escolhas.
Primeiro ponto: apesar de ser evangélica, acredito que a religião seja um modo de nos reunirmos com o mesmo propósito de adorar a Deus. Segundo ponto: eu não sigo uma religião, sigo os ensinamentos de Deus e ele diz que devemos nos reunir a outros irmãos pra adorá-lo, aprender sobre seus ensinamentos e ensiná-los aos que não conhecem (Mateus 28. 19-20, Marcos 16.15, Lucas 9. 56 e Lucas 24.47) e não pra perseguir aqueles que não seguem seus mandamentos. Terceiro ponto: Jesus diz que podemos resumir os 10 mandamentos em apenas dois – Adorar ao teu Deus acima de todas as coisas e amar ao teu próximo como a ti mesmo (Mateus 22. 34-40, Marcos 12. 28-34 e Lucas 10. 25-28).
Bom, acho que está aí a raiz de todos os problemas que temos visto de briguinhas infantis entre religiões e os homossexuais. Acontece que cada vez menos temos nos amado. Num mundo dominado pela tecnologia, temos cada vez mais nos “maquinizado”. O mercado diz que temos que ser tão ou mais eficientes que as máquinas e isso significa que precisamos ser cada vez mais produtivos. Desta forma, precisamos estar sempre saudáveis e disponíveis, a palavra não posso tem que ser abolida e substituída por pode deixar que eu posso dar conta de tudo.
As pessoas não tem se amado, tem se maquinizado de uma forma cruel. Vivemos sob um constante estado de culpa, pois não somos máquinas, somos seres humanos, passíveis de falhas e de ficar doentes. Mas há um sentimento de culpa absurdo. Se não batemos ou ultrapassamos as metas impostas, não somos bons o suficiente. Se ficamos doentes por trabalhar excessivamente, somos fracos. Se não abrirmos mão do nosso prazer pra cumprir nossas obrigações com o trabalho, somos ineficientes. E por aí vai. Cada vez mais o descanso e o prazer tem sido relegados a último plano para darmos conta de uma sociedade cada vez mais massacrante e acabamos por reproduzir isso nas relações com o outro.
Quantas vezes nosso corpo nos pede um pouco mais de calma, e para dar conta de todas as nossas tarefas nos recusamos a ouvi-lo e adoecemos? É hora de quebrar com esse julgo. Na verdade passou da hora de rompermos nossos grilhões e aprendermos a nos amar de verdade.
Aprendemos a julgar o outro por aquilo que nosso grupo supõe como certo, sem nos darmos conta que nossa verdade não pode ser imposta ao outro. Ou ele acredita, ou não acredita. Assim, nos esquecemos cada vez mais dos ensinamentos de Jesus, que é não olhar para o pecado do outro, mas olharmos com amor para nosso irmão (I João 4. 7-8, Mateus 5. 43 a 48 e Lucas 6. 32-36). Lembro de algumas passagens bíblicas que mostram esse ensinamento. Uma delas é quando uma mulher pega em adultério (João 8. 1-11) é levada para que Jesus diga se a lei de apedrejá-la deveria ser cumprida. Jesus simplesmente se abaixa e começa a escrever na areia, no que os acusadores da mulher começam a sair um por um.
A Bíblia não nos diz o que Jesus escreveu, mas acredito que ele tenha começado a listar uma série de pecados cometidos por aqueles acusadores. Quantas vezes no afã de parecermos corretos não estamos julgando o outro? Quantas vezes nós também não erramos?
Após todos se retirarem, só ficou Jesus e a mulher adultera. Ele perguntou a ela onde estavam os seus acusadores e disse-lhe que fosse embora e que não pecasse mais. Se aquela mulher voltaria a adulterar ou cometer qualquer outro pecado, a responsabilidade era dela e não de Jesus. Ele fez a parte dele, amou-a como amava a sim mesmo, cumprindo o mandamento de Deus.
Acho que precisamos aprender a nos amar, para amarmos o outro. Precisamos nos ver livres da culpa que nos encarcera e nos faz viver a partir de rótulos. Precisamos aprender a olhar o outro sem julgar. Ao julgarmos, deveríamos nos julgar e verificar se também não estamos errando de algum modo (Mateus 7. 1-5, Lucas 6. 37-38 e 41-42). Se o nosso amor não for capaz de ajudar o outro a mudar, devemos entregar a vida do nosso próximo a Deus em oração e não através de perseguição (Mateus 18. 15-22).
Os cristãos devem lembrar que durante muito tempo e até hoje são vítimas de perseguição. Não sejamos o oprimido que virou opressor, mas sejamos maiores que isso (Paulo Freire, Pedagogia do Oprimido). O apóstolo Paulo em sua carta aos éfesios diz que nossa luta não é contra a carne e o sangue, ou seja, não é contra o nosso próximo, mas contra as potestades e satanás. Logo, peço que os cristãos aprendam a não julgar e condenar, isso é tarefa de Deus e não nossa. Que possamos amar e respeitar, assim como Deus nos amou, para que através do amor e não da guerra possamos cumprir o mandamento de Jesus que diz: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura”. Vamos pregar o evangelho do amor que nos foi pregado.

Desculpem-me por ser tão prolixa, mas precisava expor meus pensamentos. Espero que meus leitores consigam entender meu ponto de vista. Falo especialmente para os cristãos por ser uma, mas espero que os outros possam aproveitar um pouco da minha mensagem.

terça-feira, 25 de junho de 2013

SOBRE MOSQUITAS E INSÔNIA

         Noite tranquila, depois de muita agitação. Bebê dormindo, marido dormindo e eu com a enorme vontade de escrever. Mas vamos aos fatos. Dizem os pesquisadores de insetos que apenas a fêmea do mosquito é bebedora de sangue, sendo o macho bebedor de seiva. Então a criatura que me impediu de dormir era uma fêmea que preferia meu sangue ao do meu marido.
         Insônia é um dos meus nomes. Quando não estou trabalhando não consigo dormir cedo, por mais que eu tente. Se por um milagre consigo dormir cedo, não mantenho o sono, acordando várias vezes durante a noite. Uma pesquisa norte-americana mostrou que os casais apresentam mais dificuldade para dormir. Desses, as mulheres são as que menos dormem. E são vários os motivos, desde problemas com ronco até pequenas idiossincrasias de cada um. Um exemplo de idiossincrasia é a de uma conhecida, cujo marido é muito calorento e não consegue dormir sem o ar condicionado ligado. Ela morre de frio e dorme coberta, enquanto o marido curte um fresquinho. Outro exemplo que conheço é de um casal que a mulher adora dormir esparramada na cama, enquanto o marido adora dormir abraçadinhos. Ela fica acordada até que o marido durma, pra enfim de desvencilhar dele e poder dormir sossegada.
Aqui em casa, não consigo dormir sem meus três amantes. Deixe-me explicar: primeiramente a culpa é da minha antiga fisioterapeuta. Tive uma pequena fratura na 5ª vertebra lombar e ela me aconselhou a dormir com um travesseiro entre as pernas pra alinhar a coluna, já que gosto de dormir de lado. Na época da minha segunda gestação, a médica recomendou que eu colocasse um travesseiro embaixo dos pés para evitar vasos nas pernas.
         Acho que vocês já entenderam que meus amantes são os travesseiros que uso pra dormir. Esse apelido carinhoso foi dado pelo meu marido. No inicio ele odiava meus “amantes”, hoje fazemos um ménage a trois na hora de dormir, se bem que ménage a trois pressupõem três e somos seis: dois humanos e quatro travesseiros, logo não se trata de um ménage, mas uma suruba. Rssssss
         Agora voltando às vacas magras, porque com a crise econômica em que vivemos, as gordas estão difíceis de encontrar.
         Existem no mercado vários mecanismos para matar ou espantar os mosquitos, mas nenhum de comprovada eficiência que nos fizesse livres desses seres chatos, que ainda transmitem doenças. Noite tranquila, todos dormindo e toda vez que Morpheus vinha me beijar, eis que a mosquita desagradável vinha me pertubar com seu zunido chato nos meus ouvidos. Vira pra cá, vira pra lá e quando encontro uma posição boa pra dormir, a bendita vem e pousa no meu nariz. Pior de tudo é não poder ligar o computador pra não acordar o marido que dorme pesadamente do meu lado. Olho pro berço, Pulluca dormindo tranquila. Fecho os olhos e vem à cabeça a série de coisas que tenho que fazer durante a semana. Lembro da prova que tenho no sábado e que tenho que ligar pra minha irmã comparecer comigo pra guardar a bebê durante o curso da prova.
         Penso nos carneirinhos e nas vaquinhas pastando em algum lugar bonito. Lembro novamente que há ainda muita coisa pra estudar pra prova e começo a lembrar do que ainda tenho que analisar, das coisas que tenho que organizar e do cardápio do almoço. Lembro do arrastão perto da minha casa, da cara de aflição da vizinha pedindo pra eu entrar depressa com as crianças. Da guerra urbana se está sendo travada no local onde moram meus amigos e parte da minha família. Mente vazia pode até ser oficina do diabo, mas mente cheia, com certeza, não é oficina do sono. Consigo lembrar o som das ondas do mar e Morpheus vem novamente tentar me beijar. A mosquita dos infernos volta a zumbir nos meus ouvidos sua canção chata e maçante.

         Olho o celular, são quatro horas da manhã e nada de sono. Pulluca acorda, penso em amamentar e coloca-la de volta no berço, mas desta vez, Morpheus consegue me beijar e embarco com ele. Pouco tempo depois o alarme me acorda, lembrando minhas obrigações. Hora de acordar os homens da casa para irem pra escola e para o trabalho. São cinco horas e quarenta minutos. Eu juro que tento dormir, mas está cada dia mais difícil unir meu ciclo circadiano aos meus compromissos e ao ciclo do dia.

terça-feira, 9 de abril de 2013

A PODA DOS GALHOS MORTOS

Revisando meus escritos, encontrei uma postagem que não publiquei. Embora esteja defasada com o momento, achei interessante postar. Palavras só ganham vida se tiverem leitores. Espero que os agrade.

A poda dos galhos mortos


 Desde outubro a única coisa que tenho feito pelas minhas plantinhas é colocar água nelas. Durante muito tempo não tive vontade, paciência ou qualquer outro sentimento, para realmente cuidar delas. Outro dia, resolvi que tiraria a poeira que pairou sobre minha vida. A parte mais difícil de uma decisão é o começo. Perceber o que devemos mudar é, relativamente, fácil. Ouvi por diversas vezes nas minhas três décadas que para começar só começando. Mas a pergunta que acredito que todos se façam diante da execução de algo complexo é: por onde começar?

Geralmente sou bem objetiva, mas como qualquer ser humano, há momentos em que as coisas me parecem um pouco mais difícil do que eu imagino que seja. Ou talvez minha percepção esteja equivocada e minha aparente razão não seja capaz de criar um nexo causal pra iniciativa tomada. De qualquer maneira, o começo é sempre mais difícil. O primeiro passo é sempre o mais demorado e complicado. Antes de dar os primeiros passos, o bebê ensaia várias vezes. O que para nós se dá de forma rápida, para eles é um processo longo. O tempo passa para todos de maneira muito particular. O bebê avalia sua capacidade de andar, tenta levantar-se e manter-se de pé. Ele só caminha pela primeira vez quando se sente totalmente seguro, e nos brinda com uma surpresa maravilhosa.

Para os judeus e alguns outros povos, a entrada de uma loja ou casa deve estar sempre limpa, não apenas por ser o cartão de visitas do local, mas porque se estiver suja, ao adentrar a sujeira virá junto. Em alguns lugares não se entra de sapatos, que são deixados na porta. Pensando nisso, resolvi começar minha faxina por fora, pela minha casa. Mas dentre tantas coisas a se fazer o que faria primeiro?

Pensei ser um bom momento para cuidar daqueles que eu desejava trazerem cor pra minha vida. Em todos os lugares que eu já morei, este apartamento para o qual eu mudei é o único cuja pintura é toda branca. Já morei numa casa cor de rosa, mas branco nunca. Tenho uma pseudo varanda, toda branquinha. Meu prédio é um antigo com estilo clássico. Passei num mercado e comprei várias flores e plantinhas para enfeitar minha varanda e torná-la mais agradável. Para mim uma casa muito clean é desumana. Seres humanos são seres multifacetados, coloridos e heterogêneos, e isso não combina com um ambiente muito...branco.

Assim, comecei meu trabalho de reorganização pelas minhas plantinhas. Enquanto as podava, percebi que muitas vezes precisamos nos podar. Precisamos ver quais os galhos, flores ou folhas precisam ser retirados de nós para que mantenhamos nossa saúde. Quando insistimos em manter determinadas coisas que nos fazem mal, ficamos mais feios. Um amigo que esteve na minha casa me falou que minhas amigas verdes estavam morrendo secas. As partes mortas estavam tão evidentes que mal conseguíamos ver as pequenas ramagens nascendo por baixo das folhas e dos caules ressecados.

Na vida, temos muitos sentimentos que precisam ser podados pra não atrapalharem os sentimentos bons que precisam de espaço pra crescer. Esse movimento precisa ser constante. Uma amiga me disse que para ter um bom fim de semana sentia que precisava beber uma cerveja com o marido pra poder esquecer dos problemas do trabalho. Carregamos muitos fardos na vida. Ontem, enquanto levava meu filho pra escola um homem praguejava aos berros o fato de algumas pessoas tratarem os outros como burros de carga. Na vida social somos obrigados a engolir muitos sapos, represar sentimentos e ocultar nossos desejos em prol da coletividade. Mas no longo prazo isso não é bom.

Quem nunca sentiu os ombros pesados como se carregássemos o mundo nas costas como Atlas?

Ou quem nunca sentiu como se, durante todo o dia, carregasse grandes e pesados blocos de pedras, para depois vê-las retornar ao lugar inicial para que as carregássemos novamente como Sísifo?

Esses sentimentos acumulados são tão danosos quanto os vícios nas drogas lícitas e ilícitas. De tempos em tempos precisamos realizar nossa poda, eliminando aquilo que não está bom para ter mais espaço pra coisas boas nascerem em nós. Quando estamos muito ocupados pensando no que fazer para resolver um problema, não vemos muitas soluções. Quando nos distanciamos do problema, quando nos ocupamos de outras coisas, nosso cérebro é capaz de nos mostrar respostas muito criativas e eficientes. A poda funciona mais ou menos da mesma maneira.

Mas como faríamos essa poda? De quanto em quanto tempo devemos fazê-la?
Longe de sermos loucos ou medíocres, acreditando sermos mais do que realmente somos capazes de ser. Acredito que quando nos vemos tristes, inseguros, solitários ou simplesmente cheios de tudo, esse é o momento em que a poda já passou da hora de acontecer. Nessas horas a poda é mais do que necessária, é urgente.

O ideal é que nós nos despíssemos todos os dias de nossos personagens na vida e fossemos dormir completamente despido de nós mesmos e de todo o resto. Algumas pessoas olham pra trás e dizem de alguma maneira quando saem do trabalho que o que aconteceu lá permanece lá. Isso me lembra uma cena muito interessante do filme sobre Carlota Joaquina – Princesa do Brasil da diretora Carla Camurati, onde a princesa retira os sapatos, jogando a areia fora e dizendo que desta terra não queria sequer o pó. Deveríamos fazer isso todos os dias, como um ritual de purificação, semelhante àquele que os católicos fazem ao passar em frente a uma Igreja ou adentrá-la.

Não quero, contudo, dizer que tudo de ruim que nos acontece deva ser negligenciado e relegado ao esquecimento total. Apenas que devemos aprender a dar a importância devida a cada coisa e depois seguirmos em frente. Novos aprendizados são sempre válidos, quer seja pelas coisas boas que nos acontecem, quer seja pelas más. O que importa é não se deixar endurecer pelas tristezas e decepções, mas manter o espírito sempre jovem e cheio de amor.